Quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023 - 06h15
Bagé, 15.02.2023
25.08.2019 (Base Carabinani / AC 06)
(D. Aquino Correia [1])
[...] Salve, Duque Glorioso
e sagrado
Ó Caxias invicto e gentil!
Salve, flor de estadista e
soldado!
Salve, herói militar do
Brasil.
Do teu gládio sem par, forte
e brando,
O arco de ouro da paz se
forjou,
Que as províncias do Império
estreitando
À unidade da Pátria salvou. [...]
Um dia muito especial, 25 de agosto (eternamente “Dia do Soldado”), Salve, Salve Caxias!!!
Em tua homenagem parto hoje. Acordei às 04h20, todo o pessoal da Base
Carabinani, Geraldo, Jakson e Ibrahim estavam de “Pé e à Ordem” prontos para as formais despedidas. Mais uma vez me
emocionei com aquele gesto tão espontâneo desses homens simples, mas altivos e
comprometidos com sua nobre missão de preservação da biodiversidade amazônica.
Parti às 05h10, levando, mais uma vez, na bagagem ternas lembranças de velhos e
novos amigos e triste por ter constatado a falta de ação dos governos, de todos
os níveis, na área de educação e da cultura.
Por volta das 10h00, armou-se uma tempestade, que em vão tentei
contornar, os relâmpagos me fizeram abandonar o talvegue do Rio e procurar
abrigo nos igapós.
Segurei um dos galhos mais baixos,
de um arbusto, cuja copa deveria estar menos sujeita à servir de para-raios,
alinhei a popa de modo a receber os banzeiros de frente e aguardei passar a
borrasca. Continuei remando até que, por volta das 11h30, surgiu outro Cumulus
Nimbus gordo, baixo, escuro e barulhento à bombordo. Piquei a voga e consegui
me safar desta nova tormenta além de poder surfar nas marolas que se formavam e
permitiam que o “Argo I” deslizasse
suavemente pelas ondas.
Estava curtindo estes momentos
quando o Toco, o artilheiro dos jogos de futebol de ontem apareceu pilotando um
barco com alguns membros da Comunidade D. Cristovão. Conversamos um pouco e
logo depois ele seguiu para Novo Airão e comecei a procurar um local para
acantonar.
Aportei, antes das 14h00, bastante
cansado, depois de remar 61 km, em um barracão, nas proximidades da Pedra do
Sanduíche, região de Madadá.
O acesso é feito através de uma
pequena Baía, estacionei o caiaque, por segurança, fora da linha de visada de
quem passava pelo Rio numa prainha protegida por um igapó logo à jusante.
Visitei a Pedra do Sanduíche e as
Grutas do Madadá, nos idos de 01.11.2016, as duas Grutas localizadas no Parque
de Anavilhanas, são formadas por grupos de rochas de arenito com mais de 700
milhões de anos.
Na minha
primeira descida, em dezembro de 2009 a janeiro de 2010, na vazante, eu fizera
algumas observações quanto às dificuldades de navegação no Negro e à linha
d’água ideal – as águas límpidas do Negro fazem com que o caiaque submerja mais
fato que não se alterou em relação ao atual período das cheias.
Achei que a velocidade das águas
seria alterada facilitando minha descida, ledo engano, como os demais Rios da
calha da Bacia Amazônica a cheia de estende aos lagos vizinhos, transforma
margens e ilhas em igapós os afluentes recebem as águas do formidável manancial
dissipando, com isso, uma grande quantidade de energia e perdendo a torrente
considerável força.
Remei hoje sofríveis 61 km em quase
9 horas de navegação. A mesma média que consigo manter nos Mares de Dentro onde
não há corrente alguma.
Tentarei, amanhã, melhorar o
rendimento para chegar dentro do prazo em Manaus. A missão “Descendo o Rio Branco” já foi concluída
na Foz do Rio Branco.
A noite foi tranquila, mas mesmo
assim, por segurança avivei o fogo duas vezes na madrugada. O telheiro permitiu
que eu deixasse de lado o toldo da barraca. Os pássaros noturnos pararam de
cantar após as dez horas. Tirei sonecas interrompidas aqui e ali por sutis
ruídos noturnos.
Total 10° Dia ‒ Base
Carabinani / AC 06 = 61,0 km
Total Geral ‒ P. Macuxis /
AC 06 = 683,0 km
26.08.2019 (AC 06 / Novo Airão)
Acordei antes da hora marcada,
04h30, e às 05h30 partia usando minha lanterna de cabeça para poder me guiar
pelo labiríntico igapó. A densa camada de nuvens e neblina limitava a
visibilidade a menos de 500 m. As fotografias aéreas do Google, apesar da cheia
me permitiram seguir a rota sem qualquer dificuldade.
Por volta das 08h00, a neblina dissipou-se totalmente e a
canícula veio com tudo. Avistei Novo Airão, por volta do meio-dia, depois de
navegar durante quase 06h30 por 52 km (8 km/h). Eu estava cansado e precisava
recarregar as energias dormindo bem por dois dias. A ideia é pernoitar em Novo
Airão e continuar a viagem depois de amanhã. Contatei o pessoal do Hotel
Mirante do Gavião, o primeiro que avistei desde Rio – belíssimo, requintado,
mas o quarto mais simples 890 reais. Decidi optar pela Pousada Bela Vista – 150
a diária. Parto 28, quarta-feira, para Manaus, onde pretendo aportar dia 30,
se tudo correr bem.
Total 11° Dia ‒ AC 06 / Novo
Airão = 52,0 km
Total Geral ‒ P. Macuxis /
Novo Airão = 735,0 km
27.08.2019 (Pousada Bela Vista, Novo Airão)
Dia tranquilo na Pousada Bela Vista em Novo Airão. Bem alimentado e medicado, as costas se ressentiam da postura rígida no caiaque. Os Iguana iguana fizeram-me companhia constante no restaurante da Pousada, perambulado pelo chão do restaurante ou comendo frutinhas e folhas nos galhos das árvores da vizinhança.
Vou procurar melhorar meu rendimento quando desci este trecho do Rio em janeiro de 2010. Naquela jornada fiz uma parada na Comunidade Terra Preta, no Hotel Ariau (cortesia do Dr. Rita) e depois na praia do 2° Gpt E. Desta feita o objetivo é me aproximar o máximo das ruínas do Ariau e depois direto em Manaus. Vamos torcer para que S. Pedro colabore e minha esgualepada carcaça aguente. Na Rota!!!
Uns Versos Quaisquer
(Fernando Pessoa)
Vive um momento com saudade dele
Já ao vivê-lo...
Barcas vazias, sempre nos impele
Como a um solto cabelo
Um vento para longe, e não sabemos,
Ao viver, que sentimos ou queremos...
Demo-nos pois a consciência disto
Como de um lago
Posto em paisagens de torpor mortiço
Sob um céu ermo e vago,
E que nossa consciência de nós seja
Uma cousa que nada já deseja...
Assim idênticos à hora toda
Em seu pleno sabor,
Nossa vida será nossa anteboda:
Não nós, mas uma cor,
Um perfume, um meneio de arvoredo,
E a morte não virá nem tarde ou cedo...
Porque o que importa é que já nada importe...
Nada nos vale
Que se debruce sobre nós a Sorte,
Ou, tênue e longe, cale
Seus gestos...
Tudo é o mesmo...
Eis o momento...
Sejamo-lo...
Pra quê o pensamento?
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H