Segunda-feira, 12 de dezembro de 2022 - 06h00
Bagé, 12.12.2022
Retornar à Boa Vista, RR,
depois de aqui ter aportado, pela primeira vez, nos idos de 1982, há 36 anos,
tinha para mim e meus familiares um significado muito especial. Embora minha
experiência como “trecheiro” tenha
sido colocada à prova no 9° Batalhão de Engenharia de Construção (9° BEC),
sediado em Cuiabá (MT), nas BR-070 e BR-364, trabalhando mais de 130 horas
semanais, os recursos em equipamentos e pessoal eram mais do que suficientes
para o cumprimento da missão antes do prazo estipulado e dentro dos mais altos
padrões técnicos.
No 9° BEC, era recém-casado,
sem filhos, e podia concentrar todo meu esforço no trabalho, não raras vezes,
nos fins de semana, minha esposa me acompanhava até o trecho para que eu
pudesse desfrutar, ainda que por breves momentos, de sua companhia.
No 6° BEC, a realidade era
bastante diversa, fui destacado, de imediato, para comandar a 1ª Companha de
Engenharia de Construção, sediada no Abonari (AM) com a responsabilidade de
manter o tráfego da BR-174 de Manaus (AM) até o Rio Jauaperí (RR), um trecho de
419 km, 120 km dos quais dentro da TI WA, única via de acesso terrestre ao
então Território Federal de Roraima. A Companhia ocupava derruídas e precárias
instalações no Km 202, da BR-174, que graças ao apoio da Mineração Taboca e
Eletronorte (os recursos do Ministério dos Transportes eram ínfimos), fomos aos
poucos incrementando melhorias. Construímos um Centro de Lazer para os
familiares dos militares destacados, alojamento para Praças solteiros,
escolinha comunitária, instalamos um segundo gerador e refizemos toda a
instalação elétrica da Companhia.
Instalamos
uma Central de TV, com gravações de uma rede de Manaus, que retransmitia seu
sinal para toda Companhia e arredores, e para um telão instalado no “Clubinho” onde as famílias se reuniam
para confraternizar. As acariquaras, a palha de ubim, o cimento, a geladeira e
a televisão do Centro de Lazer (Clubinho) foram doadas pela Mineração Taboca. O
atendimento médico proporcionado pelo Dr. Leônidas Sales Sampaio e
depois pelo Dr. Alexandre Augusto Stehling era de alto padrão e estendido às
aldeias dos Waimiri-Atroari com que mantínhamos um salutar contato. Alguns casos
mais delicados, lembro-me da esposa do “Elza”,
um dos filhos do Tuxaua Comprido, que levou a esposa grávida de nove meses para
ser atendida pelo Dr. Sampaio. O “Elza”
e a esposa permaneceram mais de uma semana na sede da Companhia onde ele fazia
questão de nos ajudar nas lides do rancho.
Perambulando
pela Companhia ele ficou encantado com nossa criação de porcos e prometi-lhe
que doaria à sua aldeia um cachaço e três leitoas de uns 4 meses, o que foi
feito logo depois do nascimento de sua filha Sônia. Na época, um dos líderes
dos WA era o Tuxaua Viana, inteligente, empreendedor e muito amigo dos
militares a quem entreguei, em várias oportunidades, livros didáticos. O Viana
era um aficionado pela Matemática e resolvíamos, juntos, alguns exercícios atendendo
às suas solicitações.
Nas
minhas inspeções ao trecho, eu visitava cada uma das aldeias localizadas ao
longo da estrada e fazia um salutar comércio com as lideranças, trocando a
farinha que eles produziam por gêneros diversos e pequenos animais que criávamos
na Companhia e ensinando-lhes os procedimentos corretos que deveriam adotar
para mantê-los.
Os
Doutores Sampaio e Stehling, valorosos oficiais médico R/2 aceitaram de bom
grado a incumbência de vacinar todos os WA da reserva, cuja área corresponde a
um quarto do estado de Santa Catarina. Muitas vezes eles tinham que arrastar ou
carregar nas costas a canoa, que os apoiava, através das pedras do Rio Abonari
e do Rio Alalaú e afluentes para chegar às aldeias mais distantes.
Era um
trabalho voluntário e eles não tinham nenhuma obrigação de fazê-lo. A vacinação
intensiva dos WA iniciou-se com o Dr. Sampaio e não com o “Programa WA”. Recebíamos atenciosamente, por diversas vezes, na
sede da Companhia, os nativos para atendimento médico e odontológico. O
relacionamento era extremamente amigável e éramos muito bem recebidos nas
Aldeias, que visitava frequentemente acompanhado de minha esposa Neiva, minhas
filhas, Vanessa de um ano e meio e Danielle de três meses.
Meus dedicados médicos
conseguiram pessoalmente e com o apoio da Superintendência de Campanhas de
Saúde Pública (SUCAM), hoje Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) eliminar os
focos de mosquitos (Anófeles) vetores da malária ‒ não teve nenhum novo caso de
malária em todo período em que lá servimos (1982/83).
Certa feita um dos
engenheiros da Mineração Taboca sofreu um mal súbito e embarcou na aeronave que
o conduziu do Abonari até Manaus acompanhado de perto pelo Dr. Sampaio até o
Hospital, em Manaus. A atenção e gentileza prestada pelo Dr. Sampaio foi
recompensada, mais tarde, com a evacuação aeromédica da Srª Denair, esposa do
Sgt Pacheco, que necessitava de cuidados médicos especiais em virtude de
complicações com a gravidez. Tive a felicidade de reencontrar estes queridos
amigos no 9° BECMB, em Aquidauana, MS.
Abonarí - Amazonas - Berço do Princípio de Saúde
Coletiva de um médico Aspirante a Oficial.
Ao ser responsável médico pelos recursos humanos
militares e civis contratados atuantes na manutenção da Br 174, estudei muito
na enfermaria para elucidar o diagnóstico de diversas doenças que incidiam na
comunidade. A malária incidia na comunidade branca e indígena da área.
Entrei no exército como amigo e tive que me
tornar um militar de verdade, para acompanhar satisfatoriamente a rotina, com
seu estatuto perfeito e na dependência de ser operado por seres humanos justos
e honestos, como em qualquer organização social.
Com poucos pacientes a serem atendidos na
enfermaria, comecei a achar que poderia levar saúde à população às margem da Br
174 e visitar regularmente os pelotões sediados na Estrada, além de atuar nas
comunidades indígenas Waimiri-Atroari na reserva indígena sob a proteção da
União. Após minha primeira visita foi constatado a indignação do funcionário da
FUNAI Sr. Paulino, que consistia na ausência de atenção médica aos indígenas
por mais de seis meses, que concorreram para a continuidade do acompanhamento
médico aos indígenas, por todo o ano que passei no exército, que apesar do
médico da FUNAI ser chamado por várias vezes para discutirmos saúde indígena,
nunca compareceu nas aldeias. Isso motivou uma atenção médica e odontológica
por parte do exército sediado no Abonarí, até mesmos às localidades distantes e
de difícil acesso no Rio Abonarí.
Abonarí - Amazonas - Berço do Princípio de Saúde Coletiva de um médico
Aspirante a Oficial.
Ao ser responsável médico
pelos recursos humanos militares e civis contratados atuantes na manutenção da
Br 174, estudei muito na enfermaria para elucidar o diagnóstico de diversas
doenças que incidiam na comunidade. A malária incidia na comunidade branca e
indígena da área.
Entrei no exército como
amigo e tive que me tornar um militar de verdade, para acompanhar
satisfatoriamente a rotina, com seu estatuto perfeito e na dependência de ser
operado por seres humanos justos e honestos, como em qualquer organização
social.
Com poucos pacientes a serem
atendidos na enfermaria, comecei a achar que poderia levar saúde à população às
margem da Br 174 e visitar regularmente os pelotões sediados na Estrada, além
de atuar nas comunidades indígenas Waimiri-Atroari na reserva indígena sob a
proteção da União. Após minha primeira visita foi constatado a indignação do
funcionário da FUNAI Sr. Paulino, que consistia na ausência de atenção médica
aos indígenas por mais de seis meses, que concorreram para a continuidade do
acompanhamento médico aos indígenas, por todo o ano que passei no exército, que
apesar do médico da FUNAI ser chamado por várias vezes para discutirmos saúde
indígena, nunca compareceu nas aldeias. Isso motivou uma atenção médica e
odontológica por parte do exército sediado no Abonarí, até mesmos às
localidades distantes e de difícil acesso no Rio Abonarí.
No Plano de Atenção Médica
às comunidades da Estrada apresentado ao Capitão Hiram Reis e Silva, a saúde
indígena tomou vulto regular de atuação, com programa de vacinação estimulado,
controle de endemias como a malária e doenças diarréicas operado nas
comunidades indígenas, além de tratamento radical de processos infecciosos e
contagiosos e patologias diversas de incidência na área indígena, levando a
contrapeso a atenção odontológica preventiva e curativa. Toda essa atuação, de
certeza ajudou a inverter os índices negativos de crescimento populacional do
povo Waimiri-Atroarí e melhorar a saúde da população indígena e ao longo dessa
rodovia federal. A atenção médica aos militares e civis da região não foi
interrompida, haja vista, a operação de ações na área indígena ser levada a
termo nas sextas e sábados. Não havia feriado e domingos no acampamento militar
do Abonarí, apenas "arejamento" mensal. (Fonte: Leônidas Sales
Sampaio)
(*)
Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas,
Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira
(SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
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Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
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Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H