Sexta-feira, 16 de dezembro de 2022 - 06h05
Bagé, 16.12.2022
No capítulo anterior fiz um pequeno relato de uma ocorrência, na BR-174, que teve participação direta do meu caro Cmt do 6° BEC Luiz Cel Ornélio da Costa Machado. Contatei, sem sucesso, amigos de longa data da arma de engenharia, com a finalidade de encontrá-lo com o intuito de que ele reportasse, com suas próprias palavras, a versão do fato e fiquei muitíssimo chocado ao ler em um jornal de Santa Catarina a triste notícia do seu passamento para o Oriente Eterno.
Hora de
Santa Catarina
Florianópolis, SC – Terça-Feira, 08.11.2016
Idoso
Desaparecido há mais de uma Semana é Encontrado Morto na Cachoeira do Bom Jesus
[Leonardo Thomé]
Oito dias depois de sair para caminhar e não ser
mais visto, o aposentado Ornélio da Costa Machado, 81 anos, foi encontrado
morto na tarde desta Terça-feira, próximo a uma região de mangue, na Cachoeira
do Bom Jesus, quase no limite com Ponta das Canas, no norte da Ilha. [...] Ornélio,
aposentado do Exército do Brasil, era casado há 54 anos com Mara Regina da
Silva Machado, 71 anos. Ela revelou ao “Hora
de Santa Catarina” que na manhã do dia 31 de outubro, Ornélio, como de
costume, saiu para fazer sua caminhada matinal até a praia. (HSC, 08.11.2016)
O Coronel Machado era um “trecheiro” dos mais notáveis de nossa Engenharia Militar. A sua grande experiência aliada a um profundo conhecimento técnico e liderança invulgar transmitiam aos seus subordinados uma tranquilidade e confiança nas suas próprias capacidades permitindo que dessem o melhor de si para o cumprimento de tão augusta missão. Essa pesquisa tão específica permitiu que acessássemos um artigo do já mencionado “antropólogo” (?) Stephen G. Baines, que reproduziremos novamente, em ordem cronológica:
O
Território dos Waimiri-Atroari e
o Indigenismo Empresarial (páginas 17 e 18)
UNB – Brasília, DF –1993
[Stephen Grant Baines]
Um militar, capitão do 6°
BEC, que acompanhava o General Euclydes de
Oliveira Figueiredo e representantes
da Paranapanema em suas visitas a esta área
indígena,
organizou reuniões em Manaus em 1983, apoiando a proposta da Paranapanema de financiar
a implantação de fazendas modelo em troca de autorização para realizar
pesquisa e lavra de mineração dentro da área indígena através de acordos
diretos entre a empresa e os capitães Waimiri-Atroari com o pagamento de
royalties. (BAINES, 1993)
Minhas reportagens a
respeito do tema, sob o título “Resgates
Históricos? Por quê?”, foram publicadas no jornal digital ClicNews em
08.08.2011, reproduzida no FAPESP, no Blog Póstumo do Giulio Sanmartini no dia
15.08.2011 dentre outros, e sob cabeçalho “Indígenas
e o Direito de Mineração” no jornal Gente de Opinião de 02.10.2011 entre
outros...
Foi também repercutido no meu livro “Desafiando o Rio-Mar – Descendo o Negro” editado pela AMZ Editora, em 2015.
Desafiando
o Rio-Mar
Descendo o Negro
Caxias do Sul, RS – 2015
[Hiram Reis e Silva]
Os antropólogos de hoje, ideologicamente comprometidos,
fundamentam suas “teses” e “laudos antropológicos” em
posicionamentos ideológicos carregados de posturas pré-concebidas e não em fatos
e comprovações científicas.
O Dr. Stephen Grant Baines é apenas um exemplo
destes famigerados antropólogos estrangeiros que são acolhidos pelas hostes
entreguistas que vicejam neste país a soldo de interesses alienígenas. [...]
A inspeção, em julho de
1983, do Gen Euclydes de Oliveira Figueiredo, Comandante do Comando Militar da Amazônia (CMA), foi uma
inspeção
de rotina a uma Unidade Militar sob seu comando e só faziam parte da comitiva os militares do comando do CMA, 2° Grupamento de
Engenharia de Construção e do 6° BEC. A verdade é que o Ministro Extraordinário para Assuntos Fundiários General Danilo Venturini, em agosto de
1983, determinou ao Comandante do 6° BEC, Coronel
de Engenharia Ornélio da Costa Machado, que
realizasse estudos junto às Comunidades nativas para verificar da possibilidade de exploração de minérios em terras indígenas por empresas privadas. (REIS E SILVA, 2015)
Qual não foi minha surpresa encontrar um documento mais atual do Baines em que ele usa as mesmas palavras de meus artigos e livro, alterando radicalmente o seu texto de 1993, sem ter qualquer prurido de deixar de citar a autoria de sua fonte.
Mineração
e Usinas Hidrelétricas em Territórios de Povos Indígenas e de Outras Populações
Tradicionais na Região Amazônica: A Necessidade de Novas Críticas Epistêmicas
29ª
Reunião Brasileira de Antropologia
Natal, RN – 03 a 06.08.2014
[Stephen Grant Baines]
Em reuniões realizadas em Manaus, entre representantes (?) do 6° Batalhão de Engenharia de Construção [6° BEC] do Exército ([1]) representantes do Grupo Paranapanema e da FUNAI, organizadas por um capitão do ([2]), o mesmo afirmou que o Ministro Extraordinário para Assuntos Fundiários General Danilo Venturini, em agosto de 1983, determinou ao Comandante do 6° BEC, Coronel de Engenharia Ornélio da Costa Machado, que realizasse estudos junto às comunidades indígenas ([3]) para verificar da possibilidade de exploração de minérios em terras indígenas por empresas privadas. ([4]) (BAINES, 2014)
Jornal
do Comércio, n° 33.156 ‒ Manaus, AM
Sábado,
07.01.1984
Euclydes Inaugurou a Escola
Indígena
com o Nome de seu Pai
O General Euclydes de Oliveira
Figueiredo Filho, Comandante da Escola Superior de Guerra, inaugurou, ontem,
às 12h00, o Centro Educacional “Euclydes
de Oliveira Figueiredo”, localizado na reserva dos índios Waimiri-Atroari,
no quilômetro 270, da BR-174 [Manaus-Caracaraí]. O Centro Educacional é fruto
de um pedido pessoal do chefe indígena Viana Iwandrera ao General Euclydes,
quando este visitou aquela comunidade ainda como comandante do Comando Militar
da Amazônia ‒ CMA.
O Comandante da ESG,
acompanhado do Comandante da Base Aérea de Manaus, Cel Acir Rebelo, do
Comandante do 2° Grupamento de Engenharia de construção, General Luiz Gonzaga
de Oliveira, do General da reserva Mário Humberto Cardoso da Cunha, do
Superintendente Regional de Produção da Mineração Paranapanema Junhici Tomita e
do Delegado Regional da FUNAI, Kazuto Kawamoto, desembarcou no aeroporto do
Núcleo de Apoio Waimiri-Atroari poucos minutos antes das 11h00.
Em seguida, foram para o Posto
Indígena de Terraplenagem, onde fica localizado o Centro Educacional “Euclydes de Oliveira Figueiredo”. O
General Euclydes e sua comitiva, a convite do chefe indígena Viana percorreram
vários núcleos de plantações diversificadas por eles cultivadas.
Conheceram ainda a comunidade
de “Jawara”, composta por 5 malocas,
habitadas por 34 índios Atroari. O ex-comandante do CMA ficou impressionado com
a diversificação das culturas de subsistência dos Atroari. Sempre cercado pelos
índios, na sua maioria crianças e mulheres, Euclydes Figueiredo Filho conheceu
as técnicas rudimentares de fabricação de farinha de mandioca.
A explicação foi feita pelo
chefe Viana Iwandrera, elogiado pelo chefe da ESG pela sua capacidade de
dinamizar aquele núcleo indígena. Dirigindo-se aos índios que os cercavam, o
General Euclydes declarou:
‒ Viana
é chefe de vocês. A ele vocês devem obedecer.
A reserva dos índios Waimiri-Atroari mede 1 milhão e 850 mil
hectares. Ao todo, eles são aproximadamente 700, distribuídos em várias
comunidades.
Ainda existem vários núcleos arredios, embora estejam sendo
contatados há anos pela Fundação Nacional do índio.
O PI Terraplenagem, localizado à margem da BR-174 é um dos pontos de atração da FUNAI, que vem “cumprindo com muita habilidade a sua meta de trabalho”, como admite o delegado Kazuto Kawamoto.
Inauguração
O General Euclydes e o chefe Viana desenlaçaram a fita de
inauguração do “Centro Educacional Euclydes de Oliveira Figueiredo” ‒
construída em madeira rústica e coberta com palha de buritizeiro. O chefe
Viana, num ligeiro discurso de agradecimento, declarou:
‒ O General esteve aqui. Deu atenção para o
índio. Prometeu escola. Hoje escola está pronta.
Estamos muito alegres... obrigado General Figueiredo.
O Delegado Regional da FUNAI, por sua vez, agradeceu a colaboração
das unidades militares instaladas na região pela
contribuição que vêm dando à execução do plano da política
indigenista oficial, tendo como ponto
básico a integração do índio à comunidade nacional.
Ele declarou, por outro lado, que Euclydes Figueiredo Filho,
quando Comandante do CMA, não mediu esforços em ajudar a FUNAI no cumprimento
de sua missão, concernente à proteção integral do índio e de seu patrimônio.
Explicou
que a afixação do nome do seu saudoso pai, o Gen Euclydes de Oliveira
Figueiredo, naquele Centro Educacional, significa a gratidão
pelos serviços que prestou às comunidades indígenas quando Comandante do CMA.
Por outro lado, destacou que a homenagem justificava uma dupla homenagem: ao Gen Euclydes de Oliveira Figueiredo e ao Gen Euclydes de Oliveira Figueiredo Filho.
A Paranapanema
A exemplo do delegado da FUNAI, o Genal Euclydes Figueiredo
agradeceu à Mineração Paranapanema pelo gesto de reconhecimento ao seu pedido
pessoal.
Ele disse que assim que o chefe Viana pediu-lhe uma escola,
repassou essa reivindicação aos seus amigos da Paranapanema, que explora uma
área de mineração contígua à reserva dos Atroari. Disse o General,
referindo-se à Mineração Paranapanema:
‒ Eu
estou profundamente emocionado com essa oportunidade de ver realizado por vocês
aquilo que me pediram pra fazer. Eu não fiz nada. Eu só fiz é pedir aos amigos.
E os amigos me atenderam.
Em seguida, o ex-Comandante do CMA disse que na Amazônia
todos devem trabalhar conjuntamente, ressaltando que:
‒ Isso
bastaria para justificar a nossa vinda e a nossa permanência no Comando é a
nossa missão. É a missão do Exército. A gente procura ajudar a todos aqueles
que trabalham em favor da população local, assim como a Marinha e a
Aeronáutica.
Emocionado, Euclydes declarou que estava muito gratificado pelo fato de os índios terem escolhido o nome do seu pai, para homenageá-lo. Encarou a homenagem como uma prova de reconhecimento aos bons serviços prestados por seu genitor à comunidade nacional, ressaltando que ele seria sempre lembrado num local onde nunca tinha servido como militar.
Presente
Antes de retornar ao NAWA,
Euclydes conversou isoladamente com os índios que ali se encontravam, fazendo
perguntas e respondendo indagações dos Atroari. O chefe Viana entregou-lhe um
arco e duas flechas como presente. Euclides Figueiredo e sua comitiva ainda
visitaram, no dia de ontem, a Mineração Paranapanema, no município de
Presidente Figueiredo. (JC, N° 33.156)
Parece que na falaciosa narrativa atual isto também não foi considerado pelas lideranças WA como um tipo de apoio do Exército Brasileiro à Comunidade.
Bibliografia
BAINES,
Stephen Grant. O Território dos
Waimiri-Atroari e o Indigenismo Empresarial – Brasil – Brasília, DF – UNB,
1993.
HSC, 08.11.2016. Idoso Desaparecido há mais de uma Semana é Encontrado Morto na
Cachoeira do Bom Jesus – [Leonardo Thomé] – Brasil – Florianópolis, SC –
Hora
de Santa Catarina 08.11.2016.
REIS
E SILVA, Hiram. Desafiando o Rio Mar – Descendo o Negro – Brasil – Caxias do
Sul, RS – AMZ editora, 2015.
(*)
Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas,
Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia
Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
[1] Havia apenas um representante, eu, o Capitão
de Engenharia Hiram Reis e Silva, responsável pela malograda presença do tal Baines
na reunião. (Hiram Reis)
[2] Faltou 6° BEC no original. (Hiram Reis)
[3] Trocou a palavra “nativas” por “indígenas”
do texto original por mim redigido. (Hiram Reis)
[4] Ao omitir meu nome mesmo usando informações
retiradas de artigos de minha lavra mostrando quão tendencioso é. Omite,
intencionalmente, que a primeira reunião realizada foi com as lideranças
Waimiri-Atroari. (Hiram Reis)
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H