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Hiram Reis e Silva

Terceira Margem – Parte DXXIV - Imprensa e Antropólogos à Soldo do “Thin Brothers” - Parte I


Terceira Margem – Parte DXXIV - Imprensa e Antropólogos à Soldo do “Thin Brothers” - Parte I - Gente de Opinião

Bagé, 19.12.2022

 

Centro Ecumênico de
Documentação e Informação (CEDI)

Povos Indígenas no Brasil/83

Sagarana Editora Ltdª

São Paulo, SP – 1983

NOTÍCIA SOBRE OS WAIMIRI-ATROARI

350 índios são estreitamente vigiados por 59 funcionários da FUNAI.

Segundo informações enviadas pelo antropólogo Stephen G. Baines ([1]) ao “Aconteceu”, em carta de 14 de março de 84, a população Waimiri-Atroari atual conta cerca de 350 indivíduos e estava assim distribuída em julho de 83 quando ele efetuou a contagem: 108 indígenas na área de influência do PI Camanaú [incluindo as Frentes Avançadas de Maré, no rio Camanaú e a de Cariuaú, no curso baixo do rio de mesmo nome]; aproximadamente 66, numa aldeia localizada na beira do rio Alalaú, um pouco acima da confluência com o rio Jauaperí, a 600 metros da sede do PI Alalaú Primeiro, aproximadamente 32 indivíduos na Frente Avançada Tapupuna e 61 na FA Taquari, ambas na área de influência do PI Abonarí; e, finalmente, cerca de 33 nas proximidades do PI Terraplenagem Yawará, na beira da BR-174, e 38 na Frente Avançada Xeri, a 5 km do PI Jundiá. Desde 1980, a maioria dos Waimiri-Atroari mora nas proximidades dos postos da FUNAI. A população de qualquer aldeamento flutua em consequência dos deslocamentos entre os postos. Alguns índios fazem visitas curtas às antigas aldeias, hoje abandonadas e longe dos postos. Nos aldeamentos atuais, os índios juntam-se aos braçais da FUNAI no trabalho em grandes roças. Todo o trabalho é organizado e dirigido pelos funcionários da FUNAI [eram 59 em julho de 83], mobilizando os índios através dos “capitães” escolhidos por eles entre os jovens. O próprio “capitão geral” da área, chamado “Viana”, também foi nomeado pela FUNAI por ter sido um morador pioneiro do Posto em 1978.

Durante o ano de 83 a FUNAI local incentivou rapa­zes solteiros, entre 13 e 18 anos, a residir e trabalhar junto aos funcionários da BASE na ponte sobre o Alalaú. Outras publicações especializadas informam sobre o avanço de grandes empresas na exploração mineral da região: a CMP e a Paranapanema têm programas de lavra experimental de ouro em fase de montagem no Amapá (Brasil Mineral I/2, dez.-jan. 84). O projeto RADAM e a CPRM realizaram pesquisas sob a jurisdição administrativa do GEBAM ([2]), nos rios Maracá e na serra do Iratapuru, no limite Sul da área Waiãpi (JB, 22.08.83).

O 6° BEC tem um destacamento perto dos limites da área indígena, em Abonarí, trabalhando na manuten­ção da BR-174, que corta a área, e no atendimento médico aos índios. A Mineração Taboca (Paranapa­nema) construiu uma escola em Terraplenagem, está financiando outras obras dentro da reserva e dando atendimento médico e dentário, dentro de um convênio estabelecido com a FUNAI. Além da BR-174 e da futura inundação, com as águas da hidroelétrica de Balbina (que vai alagar pelo menos as áreas de Taquari e o velho Posto do Abonarí) ([3]), o território Waimiri-Atroari está no interesse de várias companhias mineradoras.

Em 23 de novembro de 81, um decreto presidencial (n° 86.630) desfez a Reserva Indígena, revogando os decretos anteriores, e classificou uma área já reduzida como “interditada temporariamente para fins de atração e pacificação” após o que a FUNAI promoverá uma nova demarcação administrativa. A área retirada por este decreto é justamente aquela que está sendo explorada pela Mineração Taboca. Além disso, grandes extensões dentro da área atualmente “interditada” são de interesse de mineradoras de cassiterita.

WAIMIRI-ATROARI – CDA Promove Seminário

No período de 7 a 11 de fevereiro será realizado em Manaus um seminário com o objetivo de discutir a situação dos índios Waimiri-Atroari e as alternativas energéticas para a Região Amazônica. O seminário terá a participação de representantes de diversos órgãos, como INPA, FUNAI, Eletronorte, IBDF, 6° BEC e, inclusive, da empresa de mineração Parana­panema; que atua na região do alto rio Negro.

Esta é pelo menos, a ideia central que norteia o seminário, cujos promotores, as entidades preserva­cionistas que atuam no Amazonas – um total de 24 delas – vão convidar aqueles órgãos a credenciarem representantes para responderem as questões sem respostas na política indigenista e energética da Amazônia.

Ontem de manhã, reunidos, os líderes das entidades concluíram que talvez nem todos os órgãos a serem convidados participem efetivamente no seminário, “mas pelo menos, poderemos chamá-los de omissos em questões de tal relevância, sem que se ofen­dam”, ironizaram os preservacionistas.

Um dos representantes das entidades comentou que o INPA hoje é apenas um grande funcionário da Eletronorte, para quem vem desenvolvendo traba­lhos que se limitam à catalogação do que existe na região, sem se preocupar com a consequência dos trabalhos feitos.

Foi discutida também, em rápidas pinceladas, a questão das Anavilhanas e a possível vinda do Secretário Nacional do Meio-Ambiente, Paulo Nogueira Neto para o seminário e para a reinstalação do Projeto Jaraqui, cujo retorno às atividades foi também discutido ontem. A reunião de ontem teve também por objetivo o lançamento oficial do Comitê de Defesa da Amazônia, composto por todas as entidades preocupadas com a ecologia. (A Crítica, 08.01.83)

Denunciada Mineradora na Área Indígena

O assessor do CIMI, padre Egydio Schwade, e o sertanista Porfírio Carvalho denunciaram que a FUNAI autorizou a empresa Acaraí Indústria e Mineração a explorar cassiterita na área interditada para os índios Waimiri-Atroari, em Roraima.

Mas o Presidente da FUNAI desmentiu a informação, afirmando que o órgão “não autorizou nem autori­zará qualquer tipo de exploração mineral na área dos Waimiri-Atroari”, grupo que ainda permanece em contato esporádico com a civilização.

Os dois indigenistas informaram que a área indígena interditada já foi cortada por uma estrada de 38 quilômetros ([4]), que passa pelas principais reservas de cassiterita da região, ligando o acampamento da mineradora à rodovia Manaus-Caracaraí.

Porfírio, que apresentou relatório à FUNAI sobre a situação na área disse que os índios estão perdendo suas terras com a extinção da reserva Waimiri-Atroari, em 1981, por Decreto Presidencial, com a invasão da área por empresas de mineração e tam­bém pela construção da barragem de Balbina, que inundará parte do território indígena. Segundo o sertanista, a FUNAI autorizou a exploração de minério sob a alegação de que esta atividade é estratégica ao desenvolvimento econômico do País. (ESP, 15.03.83)

FUNAI Impede que Mineradora
Invada Reserva

O presidente da FUNAI apresentou ontem à im­prensa, o documento que encaminhou ao DNPM ([5]) negando autorização à mineradora Acaraí, subsidiária da Vale do Rio Doce, para a pesquisa de minério na área dos índios Waimiri-Atroari, em Roraima.

A presença da mineradora na área indígena foi de­nunciada, esta semana, pelo assessor do CIMI ([6]), padre Egydio Schwade, e pelo sertanista Porfírio Carvalho. No ofício encaminhado ao DNPM em 28 de setembro de 1982, o Presidente da FUNAI afirma que os índios se encontram num estágio cultural que não recomenda a presença de uma mineradora na região. Confirmou, no entanto, no caso da reserva Waimiri-Atroari, ter autorizado a construção de uma estrada ligando a rodovia BR-174 à mina de cassite­rita explorada pela Paranapanema próxima à reser­va. (ESP. 17.03.83)

Egydio Schwade Confirma Invasão

O assessor do CIMI, Egydio Schwade, afirmou que o Presidente da FUNAI, Paulo Moreira Leal, foi “desleal” quando desmentiu a presença de companhias de mineração na Área dos índios Waimiri-Atroari em Roraima ([7]). O missionário disse que visitou a área nos últimos dias e verificou que uma subsidiária do grupo de mineração da Paranapanema está construindo uma estrada que penetra mais de 30 quilômetros a reserva indígena. (ESP, 07.04.83)

Prelazia Lança Campanha

A prelazia de Itacoatiara (AM) está lançando esta semana uma campanha internacional em defesa dos Waimiri-Atroari. Com distribuição de folhetos e cartazes, a campanha denuncia as “pressões e violências cometidas contra esse povo cujas terras estão agora sendo exploradas pela empresa de mine­ração Paranapanema”.

Essa campanha destina-se principalmente combater os “três principais inimigos dos povos Waimiri-Atroari: hidrelétrica de Balbina, colonização e mineração”, além de denunciar a construção da BR-174 (Manaus, AM – Caracaraí, RR). Sobre a estrada, o documento da campanha afirma que no trabalho de construção foram utilizados:

Tratores, aviões, rifles, metralhadoras, granadas e di­namite, além de várias táticas e embustes montados pela FUNAI para tentar destruir esses povos e integrar os sobreviventes na sociedade nacional. (FSP, 24.04.83) (Continua...)

Bibliografia

 

CEDI, Centro Ecumênico de Documentação e Informação. Povos Indígenas no Brasil/83 – Brasil – São Paulo, SP – Sagarana Editora Ltdª, 1983.

 


(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

E-mail: hiramrsilva@gmail.com.



[1]   Antropólogo, há dois anos e três meses pesquisando na área Waimiri-Atroari está preparando tese de doutoramento na UNB. (CEDI)

[2]   GEBAM: Criado, pelo Decreto nº 84.516 de 28.02.1980, com a finalidade de coordenar as ações de fortalecimento da presença do Governo Federal na margem esquerda do Baixo Amazonas, acompanhar os projetos de desenvolvimento e colonização naquela região, bem como propor medidas para a solução de seus problemas fundiários. (Hiram Reis)

[3]   Não existia nenhuma aldeia naquela área, a hidrelétrica, portanto, de extrema necessidade para a população Manauara não causou nenhum problema para os WA. (Hiram Reis)

[4]   A vicinal, à margem esquerda do rio Alalaú (Amazonas e não Roraima), só foi construída após concordância dos Waimiri-Atroari que passaram a receber generosos royalties. (Hiram Reis)

[5]   DNPM: o Departamento Nacional de Produção Mineral foi substituído, em 25 de julho de 2017, pela Agência Nacional de Mineração (ANM). (Hiram Reis)

[6]   CIMI: Conselho Indigenista Missionário vinculado à CNBB, uma nova versão entreguista católica do missionário anglicano britânico, que em 1838, estabeleceu uma missão no Pirara e que culminou com a divisão da região em litígio em duas partes: 3/5 para a Inglaterra (19.630 Km2) e 2/5 ao Brasil (13.570 Km2). (Hiram Reis).

[7]   Amazonas e não Roraima. (Hiram Reis)

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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