Quarta-feira, 21 de dezembro de 2022 - 06h10
Bagé, 21.12.2022
Centro
Ecumênico de
Documentação e Informação (CEDI)
Povos
Indígenas no Brasil/83
Sagarana
Editora Ltdª
São Paulo,
SP – 1983
MAREWA Debate Ataque aos Índios
Hoje à noite, a partir das 19 horas, no auditório da
Faculdade de Estudos Sociais, os problemas causados pela civilização branca
aos índios Waimiri-Atroari serão debatidos, em palestra que será proferida pelo
antropólogo e escritor Porfírio Carvalho, autor do livro “Waimiri-Atroari, uma história que ainda não foi contada”.
A palestra
de Porfírio Carvalho, que é promovida pelo Diretório Universitário e Centro
Acadêmico de Administração, vai abrir o Movimento de Apoio à Resistência
Waimiri-Atroari, no qual se pretende uma ampla discussão em torno desses
índios, que em 1905 eram cerca de seis mil indivíduos ([1]), e hoje estão reduzidos a pouco mais de 500 pessoas.
O Movimento de Apoio à Resistência Waimiri-Atroari tem
por principal objetivo não permitir que estes pouco mais de 500 indivíduos
sejam dizimados pela civilização como foram todos os demais. Este movimento
nasceu na Assembleia Regional do CIMI/Norte I, realizada em Borba, em janeiro
deste ano. Para articular o movimento foi escolhida por Dom Jorge Marskell
Bispo de Itacoatiara, com o aval da Assembleia, uma equipe composta das
seguintes pessoas: Ezequias Heringer, Ana Lange, Emanuelle Amódio, Doroti A.
Muller e Egydio Schwade. (A Crítica, 13.06.83)
Faltam Verbas Para Balbina
As obras da hidrelétrica de Balbina, que têm por
finalidade substituir a queima diária de mais de cinco mil barris de petróleo
na geração de energia elétrica, para abastecimento de Manaus, estão ameaçadas
de serem paralisadas este ano por falta de recursos, segundo informaram, ontem,
técnicos do setor energético. A causa da falta de recursos, disseram, é
política e visa atingir diretamente o Governador do Amazonas, Gilberto
Mestrinho. Os mesmos técnicos informaram que a SEPLAN está querendo cortar os
Investimentos previstos para Balbina este ano, apesar dos esforços da
Eletronorte e do próprio ministro das Minas e Energia, César Cals para que as
obras sejam tocadas mesmo em ritmo mais lento.
Os custos globais da hidrelétrica estão previstos em
US$ 750 milhões, dos quais, segundo os técnicos, já foram investidos 30% e as
obras ainda estão em fase de fundação. A capacidade geradora da usina é de 250
megawatts, devendo custar cada megawatt US$ 3 mil. É a hidrelétrica mais cara
em termos de Custo de megawatt, por causa de sua localização e da inexistência
de queda d’água na região.
Mesmo assim, todos os técnicos do setor energético
consideram que Balbina deve ser uma obra prioritária, tendo em vista que em
1985 já representaria uma economia de divisas para o País, em compra de
petróleo, da ordem de US$ 728 milhões. A entrada em operação de Balbina,
contudo, está prevista somente para 1986 e, assim mesmo, considerando que as
suas obras serão tocadas normalmente este ano. Embora a Eletronorte e a
Eletrobrás não confirmem oficialmente, técnicos do setor energético já falam na
entrada em funcionamento de Balbina em 1989. A Eletronorte chegou a anunciar,
no início deste ano, que Balbina seria uma de suas obras prioritárias, não
tendo, porém, revelado o valor dos investimentos nas obras este ano. (ESP,
05.06.83)
Sertanista Indiciado
O sertanista Porfirio Carvalho, assessor do deputado
Mário Juruna (PDT-RJ), está sendo indiciado em IPM por ter divulgado um documento
sigiloso do Exército. O documento traz a assinatura do General Gentil Nogueira
Paes, ex-comandante do 2° Grupamento de Engenharia e Construção, sediado em
Manaus. A abertura do inquérito, segundo o sertanista, partiu do próprio
Ministro do Exército, para apurar as responsabilidades sobre a divulgação do
documento endereçado ao 6° Batalhão de Engenharia de Construção, responsável
pela construção da estrada BR-174, que liga Manaus a Caracaraí (RR). Porfírio
em seu depoimento afirmou desconhecer o caráter sigiloso do documento que lhe
foi entregue pelo sertanista Gilberto Pinto, morto durante um ataque dos
Waimiri-Atroari, em dezembro de 74 ([2]).
O
sertanista lembrou ainda que o ofício foi divulgado no 4° Tribunal Bertrand
Russel, em 1980. O documento traz instruções de comportamento para os soldados
responsáveis ([3]) pela construção da estrada que cortou a reserva
indígena dos Waimiri-Atroari:
Esse comando,
caso haja visitas dos índios, realize pequenas demonstrações de força,
mostrando aos mesmos o efeito de uma rajada de metralhadora, de granadas
defensivas e da destruição pelo uso de dinamite. (FSP 13.08.83)
Iniciada Campanha de Vacinação
Encerrou no último dia 2, a primeira etapa da campanha
de vacinação contra a poliomielite (paralisia infantil), difteria, tétano e
coqueluche na reserva dos índios Waimiri-Atroari, sob a jurisdição da delegacia
regional da FUNAI, com sede em Manaus. A informação foi prestada ontem pelo
coordenador da campanha, médico Carlos Alberto Ferreira, da 15ª Divisão de
Serviços de Equipe Volante de Saúde, responsável pela vacinação das crianças
indígenas. O médico declarou que foram vacinadas quase 200 crianças, sendo que o Exército através do seu serviço de saúde vacinou outra parte da população em idade de ser imunizada
contra a poliomielite. A imunização da
difteria, tétano e coqueluche foi feita através da vacina tríplice. O médico
Carlos Ferreira fez questão de frisar que a campanha foi coroada de êxito,
embora sua equipe tenha esbarrado em algumas dificuldades apresentadas pela
própria condição peculiar daquela região. (O Comércio, 06.09.83)
Escola Maloca Para os Waimiri-Atroari
O comandante da Vila Militar do Rio de Janeiro, Gen
Euclydes Figueiredo, chegou a Manaus. O ex-comandante do Comando Militar da Amazônia vai inaugurar hoje na
BR-174,
na Reserva Indígena Waimiri-Atroari, uma
Escola Maloca, que receberá – em homenagem ao seu pai
o nome de Centro Educacional Gen Euclydes
de Oliveira Figueiredo. Segundo
informou à EBN o Delegado Regional da FUNAI, Kasuto Kawamoto, a escola-maloca
construída com recursos da Empresa Paranapanema e Mineração Taboca vem
atender ao pleito dos índios daquela localidade e “cumprir o que determina a lei 6.001, do Estatuto do Índio, no que diz
respeito à cultura indígena, preservação dos seus valores e meios de expressão”.
Depois da inauguração da escola, o Gen Euclydes acompanhado de Kasuto e do
Superintendente da Paranapanema, Junichi Tomita, farão visita à mina do
Pitinga, uma das maiores reservas da exploração de cassiterita do país. (Jornal
da Manhã, 06.01.83)
Bibliografia
CEDI, Centro Ecumênico de Documentação e
Informação. Povos Indígenas no Brasil/83
– Brasil – São Paulo, SP – Sagarana Editora Ltdª, 1983.
(*)
Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas,
Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia
Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
[1] Um dado
puramente ficcional, sem nenhum embasamento científico. (Hiram Reis)
[2] A velha técnica, como confirmar quem lhe repassou este documento
se a testemunha está morta? Certamente foi ele que o repassou ao 4° Tribunal
Bertrand Russel. (Hiram Reis)
[3] No Tomo V,
desta coletânea, reproduzimos na íntegra as Ordens do Gen Gentil, Cmt do 2°
GECnst, ao Cmt do 6° BEC, em 21.11.1974. Medidas preventivas necessárias em
virtudes dos massacres promovidos pelos WA. Dia 01.10.1974, ataque ao Posto
Alalaú II, dia 18.11.1974, ataque à turma de desmatamento no dia 18.11.1974.
(Hiram Reis)
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