Sexta-feira, 23 de dezembro de 2022 - 06h14
Por Hiram Reis e
Silva (*), Bagé, 23.12.2022
Jornal do
Comércio, n° 34.322
Manaus, AM – Domingo, 05 de Julho 1987
CIMI
Acusa FUNAI de Manipular Índios
“É uma posição
equivocada de um grupo de Lideranças manipuladas pela FUNAI e Conceito de
Segurança Nacional”. A avaliação é do Coordenador Regional do CIMI, Guenter
Francisco, em relação às declarações das lideranças Waimiri-Atroari, criticando
a atuação da entidade junto às comunidades e defendendo a permanência das
mineradoras em território indígena e a construção de Balbina.
Reunidos
sexta-feira na FUNAI para prestar esclarecimentos sobre os incidentes
ocorridos na quarta-feira passada no Núcleo de Apoio Waimiri-Atroari, Antônio
Itaocá, líder Waimiri, e Viana, tuxaua Atroari, dirigiram serias críticas à
atuação do CIMI, que, segundo eles, estaria destruindo a cultura indígena,
tentando ainda isolar os índios e decidir por eles.
Além das
críticas ao CIMI, os líderes reafirmaram a posição dos índios de defender a permanência das empresas mineradoras em seus territórios como forma de progresso e
desenvolvimento.
Para Guenter,
a maior evidência de que as posições desses líderes não refletem o pensamento
do conjunto dos índios é o resultado da II Assembleia Geral dos Povos do Alto
Rio Negro, realizada em abril passado em São Gabriel da Cachoeira, quando a
maioria dos posicionamentos foi contrário à continuidade da ocupação do solo
indígena pelas mineradoras. Reforçou o representante do CIMI:
Houve duras reações contra a
permanência das mineradoras.
MANIPULAÇÃO
As acusações
feitas pelas lideranças à atuação do casal de missionários Egídio e Doroty
Schwade de que estariam destruindo a cultura indígena e recebendo dinheiro do
exterior em benefício próprio fizeram Guenter sugerir à FUNAI e aos líderes uma
avaliação mais séria do trabalho desenvolvido pelos missionários na área. Ele
disse não saber se o casal recebeu alguma importância do exterior, mas, caso
tenha recebido, seria para o seu próprio sustento e não para os índios. Segundo
Guenter, o importante no momento é solidificar as bases indígenas contra a
atual política da FUNAI, que funciona à revelia da Lei, com o único objetivo de
saquear as riquezas das áreas, onde está concentrada uma das maiores reservas
minerais do Mundo. Desafiou o representante do CIMI:
“A política da FUNAI é a de
enganar os índios com a ideia de progresso e desenvolvimento, mas gostaríamos
de saber se as mineradoras vão repartir seus lucros com as comunidades”.
Um fato incontestável dessa posição da FUNAI seria,
conforme ele, a tentativa do órgão de convencer os índios a aceitarem essa
politica, ao invés de alertá-los.
COLÔNIAS
Os líderes Waimiri-Atroari já teriam feito um acordo
com o Governo para a criação de Colônias Agrícolas Indígenas, conforme informou
Guenter. Com a criação dessas colônias, as áreas indígenas ficariam bastante
reduzidas, urna vez que seriam demarcadas áreas ao redor das comunidades. (JC,
N° 34.322)
Jornal do
Brasil, n° 274
Rio de Janeiro, RJ – 09 de Janeiro de 1989
História Indígena Vira Livro
A Resistência dos Waimiri-Atroarí
Belém – Os índios Waimiri-Atroari, que habitam uma
área de 2,44 milhões de hectares no Norte do Amazonas e Sul de Roraima, são
apontados como um exemplo de resistência à ocupação da Amazônia e vítimas do
ação dos grupos econômicos, na tese de doutorado defendida na Universidade de
Brasília pelo pesquisador inglês Stephen G. Baines. A tese será transformada em
livro, editado pelo Museu Paraense Emílio Goeldi. Esse grupo étnico, que já foi
guerreiro, está agora acuado, nos limites de suas forças, e muito próximo do
abandono do seu modo de vida tradicional, segundo o cientista. Baines atua no
Departamento de Antropologia do Museu Paraense Emílio Goeldi como bolsista do
CNPq ([1]) e viveu alguns anos entre os Waimiri-Atroari, produzindo
3 mil laudas de texto sobre a organização social, costumes e relação com a
natureza da tribo.
Ele se diz
desapontado com as transformações que vem ocorrendo entre os índios, provocadas
pela presença cada vez maior do homem branco na reserva, e prevê a total
descaracterização do grupo. A história dos Waimiri-Atroari é marcada por
guerras e massacres, nas quais aparecem como vítimas ou agressores. Mas as
lutas estiveram sempre relacionadas à invasão dos brancos aos seus territórios
de caça e pesca. O primeiro grande massacre contra os Waimiri-Atroari data de
1856, comandado pelo oficial português Pereira de Vasconcelos ([2]), de acordo com os historiadores Geor Hubner e Barboza
Rodrigues. Mas não há registro do número exato de mortos. Eles foram
atacados seguidamente de 1873 a 1876. Em 1905, foram assassinados em apenas um
dia 283 índios, pela tropa liderada pelo Capitão Júlio Catingueira, a mando do
Governador do Amazonas, Constantino Nery. Entre 1928 e 1930, a área dos
Waimiri-Atroari foi dominada pelo comerciante de castanha Edgar Penha, apoiado
por 30 homens armados que promoveram novas chacinas, expulsaram o chefe do
Serviço de Proteção ao Índio e destruíram aldeias inteiras. Finalmente, por
volta de 1949, caçadores de jacarés entraram na reserva e mataram 72
Waimiri-Atroari, encerrando o ciclo dos combates. A nova fase é mercada pelos
trabalhos de abertura da rodovia BR-174, nos anos 70, que liga Manaus a Boa
Vista e corta a reserva ao meio. Gripe, sarampo e outras doenças trazidas pelos
trabalhadores quase dizimaram a tribo inteira, que na época tinha cerca de 3
mil índios ([3]).
Hoje, os Waimiri-Atroari estão reduzidos a um grupo de
350 indivíduos, que vivem em aldeias dispersas. O temor do cientista Stephen
Baines é que esses índios desapareçam ou sejam absorvidos como mão-de-obra
pelos brancos, sem que tenham sido suficientemente estudados. Hoje, as duas principais
ameaças aos Waimiri-Atroari, relacionadas por Baines, são a barragem de Balbina
e a presença de empresas mineradoras ligadas à Paranapanema, empresa
exportadora de estanho, nos limites da reserva. A hidrelétrica de Balbina
inundará completamente o Sudeste da reserva. A formação do lago tem levado os
índios das aldeias Tobupana e Taguari para o Rio Cariuaú
e para um afluente do Rio Alalaú, cujas áreas já foram utilizadas por outros
grupos da mesma etnia. Duas outras aldeias tiveram de ser retiradas do local
por causa da inundação.
A reserva dos Waimiri-Atroari é rica em minérios,
principalmente em depósitos de cassiterita. Hoje, 13 empresas ambicionam a
exploração mineral na região e uma delas a Mineração do Timbó, do grupo
Paranapanema, já está operando no Rio Uatumã, que teve seu nome mudado para Rio
Pitinga nas cartas do Projeto Radam e da Aeronáutica, para beneficiar a
mineradora, segundo o pesquisador.
Baines também denuncia o desmembramento de uma área a
Leste da reserva, determinada pelo Decreto Presidencial n° 86.630, de
23.11.1981, que mudou o “status”
jurídico da reserva Waimiri-Atroari, transformando-a em “área temporariamente interditada”, para favorecer a instalação da
Mineração Taboca. No dia 19.01.1982, essa parte desmembrada foi transformada
pela Portaria Interministerial 73 em Província Mineral de Mapuera, com reserva
estimada em 60 milhões de toneladas de cassiterita, o que assegurou o interesse
das mineradoras, impedindo a entrada de garimpeiros.
Baines acusa a Paranapanerna de se apropriar de boa
parte da reserva – incluindo a área de recuperação de caça – de poluir o Rio
Alalaú, um dos últimos redutos de pesca dos Waimiri-Atroari; de cooptar
lideranças indígenas, oferecendo-lhes casas de alvenaria e um projeto
agropecuário nas aldeias ([4]).
O que foi um fracasso porque os Waimiri-Atroari não sabem lidar com
gado e as aldeias são impróprias pare esse empreendimento.
O superintendente da Paranapanema, em Belém, José
Tadeu Teixeira, negou todas as acusações de Baines, alegando que as empresas do
grupo se instalaram legalmente na área e mantêm cerca de 1.500 funcionários nas
jazidas.
Segundo Teixeira, a empresa nunca pensou em utilizar
os índios como mão-de-obra, até porque eles não são capacitados para o tipo de
trabalho ali desenvolvido. (JB, N° 274)
Bibliografia
JB, N° 274. História
Indígena Vira Livro – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Jornal do Brasil, n°
274, 09.01.1989.
JC, N° 34.322. CIMI Acusa FUNAI de Manipular Índios – Brasil – Manaus, AM – Jornal do
Comércio, n° 34.322, 05.07.1987
(*)
Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas,
Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira
(SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
[1] CNPq: Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, entidade subordinada ao Ministério
da Ciência, Tecnologia e Inovações. (Hiram Reis)
[2] Na verdade foi
o Major Manoel Ribeiro de Vasconcellos segundo o “Relatório Apresentado à Assembleia Legislativa Providencial Pelo Excelentíssimo
Senhor Doutor João Pedro Dias Vieira, Digníssimo Presidente Desta Província no
dia 8 de Julho de 1856” editado pela Typographia de F.J.S. Ramos, no mesmo
ano. Reproduzimos este relatório, na íntegra, mais tarde. (Hiram Reis)
[3] Mais uma
falácia do malfadado antropólogo. (Hiram Reis)
[4] Mais uma vez o
pseudo-antropólogo falta com a verdade. Eu acompanhei estas negociações e quem
apresentou a proposta das casas e criação de gado foram os próprios Waimiri-Atroari
e não a Paranapanema. Infelizmente a visão limitada de alguns antropólogos não
lhes permite considerar que os nossos indígenas, como qualquer ser humano,
querem auferir dos benefícios da civilização e não o de permanecer em redomas
apartadas da evolução da humanidade. Hoje eles se vestem como nós, possuem
relógios, celulares, geladeiras, fogões a gás, televisões e automóveis e não
querem abrir mão desse conforto que a modernidade lhes proporciona. (Hiram
Reis)
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