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Gente de Opinião

Hiram Reis e Silva

Terceira Margem – Parte DXXXI - Boa Vista – II, 24 a 30.08.2018 Parte IV


Carta do Refugiado às Nações - Gente de Opinião
Carta do Refugiado às Nações

Bagé, 06.01.2023


 


Carta do Refugiado às Nações

(Moisés António) ([1])

Sou um ser e não uma coisa

Ainda que eu fosse uma coisa,

Não seria a de sem valor!

 

Sou movido a deixar a minha terra

Aquela terra de origem pátria amada,

Que um dia me viu nascer,

Viu-me crescer,

Viu-me sorrir,

Sorrir para a vida,

– Vida, o grandioso presente de Deus para as nações!

 

Hoje…

Estou aqui

Amanhã acolá,

Sou um barco movido à vela

Forçado pela força do vento, pra chegar ao destino!

 

Outra hora…

Sou uma andorinha,

Movido pela estação a procura de melhores condições de vida!

 

E pra me moverem,

São vocês que praticam as guerras

Fazendo prevalecer o ditado:

NA LUTA DE DOIS ELEFANTES,

QUEM PAGA COM AS VIDAS, SÃO AS GRAMAS OU O CAPIM!

 

São nossas vidas jogadas ao nada,

Somos barrados nas fronteiras…

Como se tivéssemos cometidos crimes!

 

Uns cometem, pagamos nós!

Matam-nos,

Hostilizam-nos,

Mortos, jogam-nos como lixo feito nada

Tudo porque, um diz quem manda aqui sou eu,

E outro do outro lado responde, a terra é minha!

E tudo resulta em uma colisão, e quem morre sou eu!

OH CREDO, A TERRA É DE DEUS!!!

Hoje…

 

Venho aqui, porque não tenho terra!

Amanhã vou ali também não tenho terra!

Tudo é terra!

 

O Nativo diz:

Não tens aqui o direito,

Tu que me vens tirar o trabalho…

Então sou submetido ao trabalho escravo,

Porque quero viver a vida!

 

Ó Céus!

Oh, credo!

Só quero viver a vida

Quero liberdade

Busco a justiça

Quero também pelo menos uma única oportunidade

Para que eu sobreviva e mitigue a minha sede!

 

Tenho fome, quero roupa, quero abrigo,

Só quero viver a vida!

Repito: NÃO TENHO TERRA, TUDO É TERRA!

 

Tenho uma vida, que também merece ser vivida ...

Um presente de Deus eterno para todas as nações!

Sou um barco à vela...

À busca de um destino....

 

POR FAVOR, ME RESPEITEM, SÓ QUERO VIVER A VIDA!

 

Tive a oportunidade, graças ao Ten Cel Eng Vandir, Cmt do 6° BEC, de acompanhar de perto o excepcional trabalho do Exército Brasileiro na “Opera­ção Acolhida” e conversar com seus participantes.

O Exército atua desde a Construção dos abrigos, cadas­tramento, alimentação atendimento médico... O “Blog do exército Brasileiro” (eblog.eb.mil.br) publicou:

 Operação Acolhida - Gente de Opinião
Operação Acolhida

Operação Acolhida em Roraima: Ação de Solidariedade

Instrumento de ação do Estado brasileiro, a Opera­ção Acolhida destina-se a apoiar ‒ com pessoal, material e instalações ‒ a montagem de estruturas e a organização das atividades necessárias ao acolhi­mento de pessoas em situação de vulnerabilidade. Tal conjuntura é decorrente do fluxo migratório para o Estado de Roraima, provocado pela crise humanitária na República Bolivariana da Venezuela. Por meio da Medida Provisória [MP] n° 820, de 15.02.2018, o Brasil instituiu o Comitê Federal de Assistência Emergencial, que decreta emergência so­cial e dispõe de medidas de assistência para acolhi­mento a esse segmento-alvo. [...]

Nesse contexto, depois de visualizado e demandado o emprego do Exército Brasileiro, o Comandante do Exército, General Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, no mesmo dia 15 de fevereiro, nomeou o General de Divisão Eduardo Pazuello coordenador da Força-Tarefa Logística Humanitária no Estado de Roraima. A designação foi oficializada pela primeira resolução do Comitê, chancelada pelo Ministro da Casa Civil em 21 de fevereiro.

A partir daí, o Comitê identificou a necessidade de estabelecer, inicialmente, estruturas de recebimento de pessoal, triagem e áreas de abrigo e acolhimento; e de reforçar as estruturas de saúde, alimentação, recursos humanos e coordenação-geral das opera­ções. [...]

Esta Ação não é exclusiva do Ministério da Defesa [MD], considerando que este é um dos 12 ministérios componentes do Comitê Interministerial. [...]

A Operação Acolhida é oportunidade ímpar para que as Forças Armadas exercitem e demonstrem suas capacidades logísticas, em um cenário interagências e com caráter humanitário. Isso, por si só, ratifica o potencial do Brasil em empregar sua expressão mili­tar e, por que não, governamental, em problemá­ticas dessa natureza. Desse modo, observou-se a capacidade da Força-Tarefa no Estado de Roraima em aglutinar esforços e conduzir, em todos os níveis [político, estratégico, operacional e tático], pessoas, autoridades, instituições, organismos internacionais, como o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados [ACNUR], as ONGs de ajuda humanitária e os órgãos de segurança pública. Em tudo isso prevaleceu um ambiente de cooperação, materiali­zado em ações que melhoraram a situação dos imigrantes desassistidos, com reflexos diretos no cotidiano de Boa Vista e de Pacaraima. [...]

Quanto aos abrigos humanitários, temporários ou de maior permanência, os ambientes possuem instala­ções semipermanentes, como barracas coletivas e individuais, contêineres sanitários, escritórios, depó­sitos e cobertura para áreas de convivência e ali­mentação. Nesses locais, os imigrantes recebem a atualização da situação migratória; são imunizados contra as doenças mais comuns e outras que têm surgido na área, como o sarampo; são cadastrados para o trato humanitário pelo ACNUR e pelas ONG parceiras; e recebem alimentação e visitas médicas diárias. Os imigrantes têm três destinos: absorção pelo mercado de trabalho local, interiorização no Brasil ou retorno ao país de origem. Para a interio­rização, o imigrante precisa estar em um abrigo sob a administração de órgãos estatais, em conjunto com o ACNUR e as ONGs parceiras; estar com sua situação migratória regularizada; estar vacinado e imunizado; ser voluntário ao processo e ter destino certo na localidade para onde migrará.

A interiorização está sob a responsabilidade de um subcomitê específico, no qual a Casa Civil trabalha diretamente com a Organização Internacional para as Migrações ‒ órgão da ONU com experiência mundial no assessoramento a governos, no que tange à realocação geográfica de grandes efetivos populacionais. As primeiras interiorizações ocorreram em 5 e 6 de abril, com cerca de 250 imigrantes interiorizados para São Paulo [SP] e Cuiabá [MT]. A terceira interiorização ocorreu em 4 de maio, com cerca de 240 imigrantes para Manaus e São Paulo. A Operação Acolhida tem duração prevista de 12 meses. Pretende-se que outros estados e municípios cooperem e realizem adesão a esse esforço humanitário, necessário não só para retirar os imigrantes da situação de vulnerabilidade, mas também para auxiliar o Estado de Roraima a superar tamanho desafio social.

Como legado, a Operação é mais uma referência da forma conjunta de atuação das Forças Armadas, em que cada Força está adjudicando seus meios, em pessoal e material, para a correta execução da missão, aproveitando-se daquilo que cada uma tem de capacidade, vocação e dever.

No cumprimento das atividades de comunicação social, foi possível exercitar a compreensão interna da Operação e seus reflexos na mídia, além de poder contar com equipe de militares dedicados e compe­tentes da Marinha, do Exército e da Força Aérea. Foi uma oportunidade de atestar a crença em nossa capacidade, em nosso valor e no propósito maior de servir à Nação.

Construção de Novos Abrigos

O 6° Batalhão de Engenharia de Construção (6° BEC) contribuiu e contribui, de maneira decisiva, com a Força-Tarefa Humanitária através de trabalhos de engenharia na construção dos abrigos Rondon 1 e Rondon 2, localizados nas proximidades da base da Polícia Federal, onde também está instalado um posto de identificação e triagem dos imigrantes oriundos da Venezuela.


 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

E-mail: hiramrsilva@gmail.com.



[1]    Embora o Poeta Moisés Tiago António seja um refugiado angolano, e não venezuelano, seu poema transcende fronteiras fazendo um apelo pungente à humanidade das criaturas. É um pedido de socorro à compreensão das criaturas daquele que deixou quase tudo para trás, mas que continua sua eterna busca por uma vida digna, pela liberdade e pela justiça. (Hiram Reis)

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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