Segunda-feira, 16 de janeiro de 2023 - 06h10
Bagé, 16.01.2023
O RIO
(João Cabral de Melo Neto)
Os Rios que eu encontro vão seguindo comigo, Rios são de água pouca, em
que a água sempre está por um fio.
Cortados no verão que faz secar todos os Rios.
Rios todos com nome e que abraço como a amigos.
Uns com nome de gente, outros com nome de bicho, uns
com nome de santo, muitos só com apelido.
Acordamos por volta das 06h00, e
nos dirigimos ao local de partida, felizmente o Policial Federal solicitamente
abriu o portão que nos permitia acessar a margem esquerda do Rio Tacutu. Feitos
os devidos ajustes no “Argo I”
despedi-me daquela altaneira tropa que tão gentilmente me apoiou. O dia estava
claro e o Sol ainda não surgira no horizonte. O Rio Tacutu (Itacutu para os
guianenses) escorria sua torrente preguiçosa e languidamente pelos tortuosos
labirintos formados pelos enormes bancos de areia.
Na Foz do Rio Arraias, avistei um pescador e cumprimentei-o e o
carrancudo homem, que recolhia frustrado a sua rede, não respondeu minha
saudação, imediatamente lembrei-me do livro sagrado (Lucas V, 1-7) que relata a
difícil jornada de Pedro, Tiago e João que, durante toda a noite, lançaram suas
redes no mar da Galileia sem alcançar o sucesso esperado. Por volta das 08h34,
avistei um bando de tuiuiús (Jabiru mycteria) onde um grande macho pavoneava-se
para uma das fêmeas.
O macho com as asas abertas realizava uma elaborada dança
ritualística, típica desta espécie, em torno da fêmea ao mesmo tempo em que
batia ruidosamente seu longo e robusto bico, a fêmea acompanhava, com certo
recato, a evolução sem abrir as asas. A excitação que antecipa a cópula aumenta
a irrigação sanguínea e a pele vermelha do papo do macho torna-se intensamente
rubra.
Pelas 10h00, uma Pata Brava (Cairina moschata) que me
espreitava sorrateiramente, de longe, por trás de um tronco de uma palmeira, de
repente, ela abandonou o esconderijo dissimuladamente e desfilou pelo banco de
areia ostensivamente para se mostrar e entrou rapidamente n’água passando a
apresentar um comportamento bastante estranho batendo as asas, sem alçar voo,
como se estivesse lesionada, aproximando-se, às vezes, do caiaque sem qualquer
receio com o intuito de me levar a persegui-la, com o fito de me afastar
daquele tronco seco.
Por mais de uma vez assisti a comportamentos semelhantes, nas
plagas gaúchas, quando os pais (patos, marrecas) tentavam me afastar do seu
ninho. Desembarquei no banco de areia de onde a mamãe pata partira, segui suas
pegadas pela areia e avistei camuflado entre a vegetação o objeto de sua
dissimulação um ninho com mais de 16 ovos de cor branco azulada. Confirmada
minha expectativa, deixei a mamãe pata em paz e prossegui minha solitária viagem.
Às 11h10, logo depois de deixar o Igarapé do Caju à margem esquerda do Tacutu e
o Rio Maú à direita passei pela ponte da BR-401 que liga Conceição do Maú à
Normandia, mantendo uma média horária de 9,3 km/h nestes 40 km percorridos em
04h23.
Fiz uma única parada, de 30 minutos, às 12h00, para ingerir
algum alimento e espichar as pernas. O braço doía um pouco, principalmente
durante este breve repouso. Tinha muita dificuldade em levantar o abraço, mas
como minha remada é baixa a dor era suportável. Os prognósticos para esta
jornada não tinham sido nada alvissareiros, as relações numéricas o braço com
movimentos limitados, o fim de minha contratação como Prestador de Tarefa por
Tempo Certo (PTTC) em 31.12.2018 pelo Exército Brasileiro, as dívidas com a esposa
internada há 15 anos se acumulando... Acho que tudo isto abalou meu lado
emocional que em consequência afetou o físico.
Às 16h30, parei e montei a Acampamento 1 (AC 01 – 03°27’49,84” N
/ 60°08’47,46” O) em uma bela e extensa praia, à margem direita. Carreguei as
tralhas para o local onde montaria a barraca, tomei um banho morno, e na hora
de montar a barraca é que senti muita dificuldade, meu braço direito realmente
doía muito. Tive de arrastar o caiaque para a terra usando apenas o braço
esquerdo. Tinha remado 77 KM em 09h10 (8,4 km/h). Dormi cedo.
Total
1° Dia ‒ Ponte Tacutu / AC 01 = 77,0 km
(*)
Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas,
Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira
(SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
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