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Hiram Reis e Silva

Um grito de alerta aos irmãos


Um grito de alerta aos irmãos - Gente de Opinião

Bagé, 19.07.2022

Mais uma vez tenho a honra de repercutir um artigo de meu Mestre Higino Veiga Macedo, editado em maio de 1991.

UM GRITO DE ALERTA AOS IRMÃOS

(Cel Eng Higino Veiga Macedo)

Desde a mais remota Antiguidade, as ideias, que perduram por séculos como verdades, são forjadas, discutidas e difundidas, primeiramente, em templos de sociedades secretas e iniciáticas. Dão disto testemunho as escolas platônicas, aristotélicas, pitagóricas e outras menos famosas mas nem por isso menos importantes.

Na História Moderna, vamos encontrar a formulação e a implantação da Maçonaria Especulativa. Em 1717 foi fundada a primeira Loja Maçônica em Londres e em l723 surgiu a primeira constituição – a de Anderson. Ainda nos séculos XVII e XIX.

O liberalismo vai fazer, nos gênios enciclo­pedistas, a sua residência. Os templos maçônicos, moradas da liberdade da filosofia, servirão de abrigo às correntes de pensamento que se oporão ao monarquismo absolutista e ao domínio perverso do Cristianismo deturpado.

Assim serão concebidas a Independência dos Estados Unidos, a Revolução Francesa, a Independência do Brasil e a República em Portugal, na Espanha e na Itália. Foi nos templos maçônicos que também se forjou a República do Brasil.

A República é a síntese dos ensinamentos filosóficos maçônicos obedecendo a trilogia Igualdade, Liberdade e Fraternidade. No direito de escolha do governante temos: IGUALDADE no valor do voto (o voto do negro, do índio ou do branco, do rico ou do pobre, do homem e da mulher, do forte ou o do fraco, do inteligente ou do bronco ou do ignorante ou do sábio tem o mesmo valor); LIBERDADE de eleger quem lhe aprouver, secretamente, numa cabina; FRATERNIDADE por aglutinar um mesmo ideal irmanado, que é a esperança de estar optando pelo que há de melhor para assumir os destinos da Pátria.

Portanto, meus irmãos, a Maçonaria vem abrigando, em seu seio, todos os movimentos que tiveram por escopo a liberdade da Humanidade e a Igualdade de direitos e de oportunidade para que, evoluindo o Homem, material e espiritualmente, todos fraternalmente se respeitem e se amem.

No Brasil, o labor maçônico parece que estancou com o advento da República.

Pergunta-se: o que norteia a Maçonaria Brasileira hoje? Qual o seu objetivo real? Existe algo no Brasil suficientemente importante, capaz de mobilizar a maçonaria e tirá-la da letargia? Existe algo capaz de eliminar as vaidades ridículas e unir Grandes Lojas, Grande Oriente, Orientes Independentes, ritos escocês, adoniramita, brasileiro, francês e outros?

Será que hoje ela abriga apenas vaidosos que querem ostentar vistosas alfaias das funções e dos graus, chegar ao grau 33, serem Mestres Instalados para, recebidos em Loja, impressionarem assustados aprendizes?

O que fazemos em loja hoje que não seja envolver-nos em ranços político-partidários e praticar um precário esoterismo que está mais próximo de ladainhas religiosas e de duvidosos tratados metafísicos? Será que os antigos Irmãos eram mais Maçons e mais brasileiros do que somos?

Irmãos, o Brasil precisa de uma REVOLUÇÃO já. Não de uma revolução de armas em punho para mudar um governo ou implantar uma ideologia. Mas uma revolução de trabalho que resgate milhões de irmãos brasileiros, escravos da miséria, trancados na masmorra do analfabetismo, mutilados por doenças e que não sabem o que são “bons costumes”; porque vivem promiscuamente como animais. Há exagero na exortação? Parece que não.

Na copa do Mundo de 1970 havia uma música que queria a ação de noventa milhões de brasileiros: “noventa milhões em ação, pra frente Brasil...”; Hoje são passados vinte anos e somos cento e cinquenta milhões de brasileiros. Portanto sessenta milhões de irmãos, que contam, no máximo, com vinte ou vinte e um anos de idade, nasceram de 1970 para cá.

Sessenta milhões de habitantes, meus irmãos, é como se fosse a população do 15º país mais populoso do mundo. Na Europa apenas a Alemanha tem esse número. Na América Latina, apenas o México. É a atual população de duas Argentinas, uma França, uma Itália e metade do Japão.

Mas, desses sessenta milhões de brasileiros, a esmagadora maioria foi gerada no seio da população classificada como muito pobre tendo para miserável onde a taxa de natalidade supera os 3% ao ano.

Em 1990, ano passado, foi feito um recenseamento por amostragem. Pasmem com este resultado: existem três milhões de meninos de rua, em todo o Brasil. Não são desassistidos ou carentes. São irmãozinhos abandonados, na sarjeta, como ratos que daqui a dez ou quinze anos, serão transformados em três milhões de Guerrilheiros Urbanos. São seres humanos que serão mortos, como animais, sem piedade pela sociedade que hoje não os vê. Ou serão arrancados do meio desta mesma sociedade e enjaulados como feras em masmorras públicas.

Com sessenta milhões de jovens que já necessitam de trabalho, mas não tiveram escolas, cresceram subnutridos e se criaram minados por doenças, qual governo, qual a economia, qual a nação, enfim, terá condições de prosperar?

Irmãos se começarmos a trabalhar, hoje mesmo, após este grito de alerta, só dentro de mais vinte anos é que teremos alguns resultados. Se nada fizermos, eu lhes pergunto: que nação deixaremos às gerações futuras, aos nossos filhos e aos nossos netos?

Eis aqui, meus irmãos, uma tarefa em que a Maçonaria terá que se engajar, liderar e assumir. Assim como foi competente no passado poderá sê-lo também agora se quiser.

Teremos que enfrentar as elites religiosas ultrapassadas, os fanáticos, os políticos radicais, os acomodados e as autoridades desmotivadas. Partir em busca do resgate da essência da república e, consequentemente, do resgate desses irmãos, antes que algum aventureiro ou fanático o faça e percamos a liberdade em nome da liberdade.

Para isso, teremos que motivar todos os irmãos que ocupam postos e cargos de liderança. Não importa se privados ou públicos. Teremos que relembrar-lhes de que quando fizeram a primeira prova do aprendiz lhes foi dito: “... a Pátria e a sociedade podem levar seus filhos ao altar dos sacrifícios, quando necessário for, para o bem das gerações vindouras. Nossa Ordem exigirá de vós um juramento solene e terrível, prestado já por muito benfeitor da humanidade. Todo aquele que não cumprir os deveres de maçons, em qualquer oportunidade, nós o consideraremos traidor à Maçonaria...”

Aos irmãos com cargos políticos deverão ser dadas Diretrizes, Estudos, formar Grupos de Trabalho e Fóruns de Debates com relatórios conclusivos para serem apresentados como sugestão. Isto gerado em Lojas, em Comissão do Grão Mestrado ou mesmo em universidades, de irmãos professores.

A Ordem abriga muitos homens inteligentes com capacidade para esses assessoramentos. Não é necessário que se tenha um partido político Maçônico e nem que se eleja um irmão só para isso.

Basta que a Ordem exija que seus filhos, para corrigir este “desastre nacional”, siga a orientação da ORDEM. O que falta então? Apenas vontade maçônica.

Temos a obrigação moral de resgatar a República que nos foi entregue, há um século, após árduo trabalho e sacrifício de Irmãos e que dia a dia estamos perdendo por omissão, hoje já criminosa.

Temos que parar de comprar indulgências com campanha do quilo, do agasalho e outras tantas.

As religiões de todos os matizes vêm fazendo isto há séculos, com resultados discutíveis. Temos que combater as causas e não aplicar paliativos nas consequências.

Temos que ter a coragem e a vontade de começar já, para que dentro de alguns anos possamos chegar de frente, a esses irmãos, para dar-lhes um abraço e não para por-lhes algemas.

Temos que vencer a inércia e convencer os irmãos políticos, alguns escravos já das trocas de favores, nem que para isso tenhamos que fazer renascer as CHOÇAS, as BARRACAS, as CABANAS e os trabalhos dos BONS PRIMOS dos Carbonários. Ou fazer renascer as Lojas LAUTARO que tanto fizeram pela independência hispano-americana.

Que o GADU nos dê Sabedoria para conduzir a luta, Força para durar na ação e vencê-la e a Beleza d’alma para mantermos a humildade que empreendimento requer.


 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

E-mail: hiramrsilva@gmail.com.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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