Terça-feira, 22 de fevereiro de 2022 - 13h52
Fico
deveras surpreendida com a diversidade
da obra de Viriato Moura. Impressiona-me a pluralidade de seu talento, algo que
exercita criteriosa e cuidadosamente, características que elevam a arte como um
todo, sobretudo as artes plásticas e as letras de Rondônia. Viriato é uma
artista.
No que tange à literatura, Viriato, poeta por
excelência, tem nos apresentado um trabalho vanguardista, algo que foge aos
padrões da maioria dos escritores de sua geração, entre os quais me incluo.
Depois
das Aldravias, poemas minimalistas constituídos de seis palavras-verso cuja
proposta é a concisão na forma, aliada ao máximo de poesia, Viriato nos brinda
com Nanocontos.
O
nanoconto é um microconto caracterizado pela excessiva pequenez, feitio que reflete
a contemporaneidade, o ciberespaço e as possibilidades através das quais se dá
a comunicação no mundo de hoje.
Como
o próprio nome indica, trata-se de uma forma de narrativa bastante concisa que
traz em seu bojo uma situação de conflito único (característica esta presente
nos contos de Viriato, assim como o uso da terceira pessoa; aqui, uma opção do autor),
um ou poucos personagens, enfim, algo que reporta o leitor ao imediatismo e à
celeridade, aspectos que nascem do universo da comunicação, na atualidade. Isto
não impede, contudo, que o leitor dê asas à imaginação, esta é a melhor parte
da leitura.
Selecionei
20 nanocontos de Viriato Moura. Leitora apaixonada por literatura, escolhi
aqueles que mais instigaram minhas fantasias; porém cada leitor possui as
próprias referências, memórias repletas de vivências, experiências que
proporcionam ao sujeito um modo único de enxergar as situações da vida.
Eis os vinte nanocontos!
BLOQUEADA
Odiava a
velhice, por isso a matou antes de ela chegar.
IMPACIENTE
De
conversas vazias, retirava-se cheio.
OCUPAÇÃO
Os espaços vazios por onde passava ficavam cheios de sua presença.
DIREÇÃO
De tanto olhar pelo retrovisor, esqueceu das ameaças frontais.
ALIMENTO
Sua
miséria era tanta que fartava a misericórdia alheia.
VASSOURA
Era uma
bruxa, porém voava sempre de primeira classe.
AVESSO
Sofreu tanto na vida que, ao chegar ao céu,
negou-se a entrar.
VACUIDADE
Era um ser
cheio de vazios.
IMPROFÍCUO
De tanto
perder, desaprendeu a reconhecer as próprias vitórias.
DESEJO
Não gostava de
sorvete, mas lambia os beiços ao vê-la degustar um.
OUTRO
Quem o
conhecia, queria ser como ele — menos ele.
INSATISFEITO
Procurava compulsivamente,
porém, quando encontrava, não era mais o que estava procurando.
CHAVE
Durante o julgamento, a esposa do acusado adentrou
na sala e disse: “Foi ele que me matou!”.
DEFESA
Era o sol da vida dele, por isso ficou cego de
ódio de tanto olhar para ela.
EVENTO
Sua ausência
compareceu deixando todos os presentes mortos de saudade dela.
FALTA
O que o incomodava nas viagens era não ter bagagem.
REJEIÇÃO
Como um Frankenstein, era composto por pedaços alheios à sua vontade.
EXPECTAÇÃO
Esperada desde sempre, nunca chegou. Nem sequer
disse que vinha, mas vive em mim como ninguém.
INABILITADO
O sonho dele de andar sobre as águas
concretizou-se. Virou pesadelo quando acordou: não sabia nadar.
BULLYING
Logo após matar o marido, a gorda comeu um bolo de chocolate inteiro.
Médico, jornalista, artista visual, poeta, contista, cronista, membro efetivo da Academia de Letras de Rondônia, idealizador e apresentador do programa de televisão Viva Porto Velho, um marco nas comunicações do estado, colaborador de diversos sites a nível local e nacional.
Viva Viriato Moura!
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