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Sandra Castiel

O príncipe da paz


O príncipe da paz - Gente de Opinião

Sou uma pessoa de sono difícil e sonhos perturbadores, custo a crer que não são realidade. Aliás, na madrugada, passei mal e precisei de atendimento hospitalar. Como havia deixado de pagar meu plano de saúde, minha única opção era o SUS. Tentando ficar calma, chamei um carro de aplicativo, estava sozinha. Chegando ao destino, uma moça com o rosto marcado pelo sono e pelo cansaço, balbuciou algo, entendi que perguntava meu nome, idade, endereço, coisas assim. Mandou-me esperar. O salão estava lotado, havia pessoas de todas as idades, e o atendimento era lento.  

Ao olhar para o fundo da sala, avistei uma jovem grávida, talvez incomodada com as dores que antecedem o parto. Ela não estava só, um homem, provavelmente o marido, a ajudava, ora falando com a atendente, ora abraçando a jovem mulher, que sentava e levantava repetidas vezes.

 À certa altura, o marido abriu uma mochila velha e de lá retirou alguns panos com os quais improvisou, no chão, uma espécie de leito para que a jovem se deitasse, enquanto esperava pela sala de parto. Já haviam avisado que seria a próxima a ser chamada. Acontece que, assim que se deitou, a mulher emitiu   longo gemido, e o   choro do menino que acabara de nascer ressoou pelo prédio inteiro. A comoção foi grande, todos choramos. Acorreram enfermeiras e o médico de plantão, para prestarem assistência à mãe e a seu bebê. O pai agradeceu a atenção de todos e com um sorriso anunciou: — “O nome do menino é Jesus!.”

Claro que as coisas não ocorreram nesta sequência, nem exatamente assim, pois os sonhos nos pregam peças; porém, alguns pontos me impressionaram: senti na pele as dificuldades da vida das pessoas que não podem pagar por assistência médica nos momentos de sofrimento físico, isto é terrível. Não deveria ser assim, temos o SUS, a precariedade de seu funcionamento sabemos a que se deve.

Se Jesus chegasse aos trinta e três anos no mundo de hoje e fosse brasileiro, como no meu sonho, provavelmente não expulsaria apenas os vendilhões do templo (aqui são muitos), mas também os políticos e governantes que praticam corrupção e usam o dinheiro dos altos impostos, pagos a duras penas pelos contribuintes.  

Meus sonhos, na maioria das vezes, não me trazem alento. Porém levam-me a pensar e a conjecturar como nesta modesta crônica.

Que Jesus nos conceda um ano melhor. Que inspire nosso povo. Que auxilie os homens justos na luta contra os ímpios, os verdadeiros vendilhões do suor e do trabalho da nação brasileira.  

Feliz Natal! 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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