Domingo, 30 de agosto de 2015 - 13h36
Minha última tia morreu em passado recente, com mais de noventa anos, no Rio de Janeiro, onde viveu grande parte de sua vida. Mulher reflexiva e religiosa dedicava parte de seu tempo a um grupo de orações que fundara há décadas e mantinha com especial cuidado. Quando sabia de alguém doente, propunha-se de imediato a orar por sua saúde; se o problema fosse de outra natureza, tentava ajudar, do mesmo modo, através de seu grupo de orações. Tinha por hábito recitar preces antiquíssimas e muito belas, que sabia de cor e salteado, sempre tentando levar uma palavra de apoio a quem necessitasse.
Minha tia carregava consigo uma grande dor, a dor das mães que perdem um filho. Devotada, mantinha em um canto de sua sala de estar uma mesinha redonda: sobre a toalha brocada, havia um porta-retratos com a foto do filho amado, e a seu lado, sempre, um vasinho com flores frescas. Era como se preservasse, desse modo, a presença do filho que se fora em sua vida e em sua casa.
Quando morreu minha tia, sua filha (minha prima) precisou esvaziar o apartamento dela, numa função que demandou muito tempo, afinal, uma existência de mais de noventa anos deixa muitas marcas. As gavetas foram esvaziadas, os móveis foram desmontados, as cortinas foram retiradas. Eis que, no meio da papelada, minha prima faz um achado incrível: um maço de cartas para Deus! Quanta dor... Quanto peso carregado nos frágeis ombros de uma mãe que perde o filho, mas que se mantém viva tentando minimizar as dores dos outros.
Assim era minha inesquecível tia Marília, pessoa especial cujas preces me fazem muita falta. Ponho-me a pensar em seu hábito de escrever cartas para Deus e fico imaginando que aqueles deviam ser momentos sagrados, momentos únicos, de mais profunda contrição.
Daqui do meu canto, também sinto impulso de escrever, com letra manuscrita, cartas para Deus. Certamente a letra sairá trêmula e as lágrimas borrarão a tinta da caneta, pois a emoção será grandiosa, já que as dores do mundo não poderão ficar fora de minhas cartas.
E assim, pensando nas cartas para Deus, encerro meu dia, com a esperança de sonhar com as dádivas que recebemos diariamente Dele através das pequenas coisas; não posso esquecer de agradecer!
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