Quinta-feira, 25 de abril de 2013 - 14h00
Abre o olho em meio à penumbra do quarto: é noite alta; sente de novo aquela sensação horrível, uma espécie de luto que a impede de ser feliz. Acreditava sinceramente que para ser feliz bastava respirar e contemplar a vida, sem dores. Mas por que cargas d’água esta sensação de luto, esta angústia, esta inquietação dorida que teima em brotar-lhe do peito e tomar conta de seu despertar, de seus momentos, de suas horas, de seus dias, de suas noites?
Se antes, amava ouvir o canto dos pássaros, este agora lhe soa funesto, pois a remete amargamente à consciência da finitude de todas as coisas, sobretudo à sua própria finitude, lembrança triste, do tipo... “em breve vou morrer e não mais ouvirei o canto dos pássaros”; se antes deleitava a alma com o som de risos de crianças, agora pensa que não há mais crianças a sua volta e nunca mais haverá: sofre; se antes se encantava em plantar sementes de árvores frutíferas, agora pensa que as árvores são efêmeras como tudo que é orgânico, então pra quê contemplá-las? Enfim, é como se já houvesse deixado o mundo, a vida e tudo o que mais nela preza. É como se sua alma houvesse partido para sempre, rompido todos os laços que a prendiam a este mundo; é isto, a alma do que fora já não existe, foi-se para sempre, e em seu vazio há apenas o espectro, uma sombra dark que nem de longe se assemelha à sua própria alma; partiu e o que permanece aqui é apenas este espectro desorientado do que fora um dia, um espectro que não sente necessidade de falar, de ouvir, de produzir; um espectro que não é capaz de emocionar-se e enlevar-se com as belezas da vida, de chocar-se com as dores do mundo e com as dores humanas.
Isto é Depressão. Muitas pessoas, ou já sofreram deste mal terrível, ou ainda sofrem com ele; algumas não conseguem superá-lo e acabam sucumbindo, entregando-se à devastação que este mal causa à saúde física, emocional e mental das pessoas. Será esta uma doença do mundo moderno? Pode ser, muita gente crê nessa possibilidade. Porém, se vasculharmos a memória, certamente encontraremos um parente com a fisionomia nublada, sempre ensimesmado, alguém que não interagia alegremente com o grupo familiar. Só que, à época, a gente ouvia que ele era assim mesmo, esse era o jeitão dele. Hoje não creio nisso, não; acho que a depressão sempre existiu, a medicina é que ainda não a tinha detectado.
Mesmo com a difusão da existência desta terrível doença, muitas pessoas tratam-na como um tabu, envergonham-se de admitir que precisam de medicamento para combatê-la, sentem-se diminuídas, fragilizadas e temerosas da opinião dos outros a seu respeito.Grande bobagem! Felizmente existem os salvadores remedinhos de tarja preta, prescritos pelo médico, evidentemente, que trazem a pessoa de volta do Hades, do Umbral, das Trevas, impedindo a partida prematura de sua própria alma. Tudo passa. A depressão também passa, desde que tratada corretamente. Viva a Vida!
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