Sábado, 11 de fevereiro de 2012 - 11h04
Às vezes fico me perguntando por que não há um dicionário de sentimentos humanos, desde os mais elevados aos mais rasos. Algo que transcenda a frieza da conceituação léxica e que seja capaz de traduzir em palavras simples o complicado, mas tão rico, universo da psicanálise.
Há que se reconhecer que é difícil conceituar e dar sinônimos aos sentimentos. E como são confusas e delicadas as relações entre as pessoas!... São elas as geradoras de quase, digo quase, todos os sentimentos - que me perdoem os especialistas se estou afirmando uma inconsequência, mas a gente percebe a subjetividade das crianças, desde a tenra infância, em suas reações na interação com os coleguinhas de creche.
Se houvesse um dicionário de sentimentos, ele teria que ser coerente com a complexa cabeça humana: não sentimos em ordem alfabética e, normalmente, o que nos move é o amor, pelo menos acreditamos que seja. Portanto AMOR teria que vir em primeiro lugar, antes mesmo de AFETO e de AMIZADE, já que, sem ele, não existiriam outros sentimentos que fazem do ser humano o que ele é. Há que se considerar, também, que sua ausência gera os sentimentos mais baixos e que em nada orgulham a espécie humana. O primeiro verbete seria então o do amor.
AMOR: Algo que não se define, a gente apenas sente. Grandioso, múltiplo, mutante e suave, eleva e enleva a alma humana. Normalmente é confundido com outros sentimentos menores, principalmente quando se trata de relação conjugal, namoros etc. Como o amor é passível de enganos, o casal certifica-se de sua existência, ou não, após uma convivência cíclica, que normalmente dura sete anos; este é o tempo limite (com variações), para que uma paixão se sustente e comece a cair a máscara de amor que alimentava a relação. (Como há muito a se dizer sobre o AMOR, retomaremos este verbete no final do texto.)
A paixão é a grande cilada, aquilo que leva as pessoas à ilusão de que estão amando, quando na verdade estão mesmo é apaixonadas. Caberia ao Dicionário de Sentimentos, então, conceituar a paixão para alertar os incautos. Vamos lá:
PAIXÃO: Arrebatamento que faz com que uma pessoa fique completamente atraída por outra, a ponto de pensar nela o dia inteiro, não conseguir trabalhar, atravessar noites sem dormir, além de perder o apetite. Este sentimento é irracional e perigoso, pois leva ao Ciúme - espécie de desconfiança que faz com que a pessoa perca a compostura, enlouqueça, agrida, esfole e até mate. Quando não correspondida, a paixão deixa homem e mulher meio bobos, a ponto de levá-los às lágrimas, quando ouvem qualquer música brega sobre o tema, e de fazer com que frequentem bares, enchendo a cara com dezenas de copos de chope, cerveja, caipirinha, caipiroska, vinho, vodka, cachaça, etc. etc. Vivendo sob a cilada da paixão não correspondida, a pessoa quer mais é se punir, não dando a mínima aos conselhos dos amigos, que tentam, em vão, deter o processo de autodestruição. O indivíduo apaixonado só consegue pensar no objeto de seu desejo - o outro (ou a outra): em seus olhos, os mais profundos do mundo; em sua boca, a boca mais beijável do planeta; em seu jeito de andar, pura sensualidade; em sua voz, a mais inebriante melodia; em seu corpo, a morada celestial do Pai; e no sexo... bem, deixa pra lá, todo mundo entende.
Reconheço que é muito complicada essa história de conceituar sentimentos humanos - digo humanos, porque acredito que os animais também desenvolvem sentimentos -. Talvez o mais simples seja mesmo o amor, apesar de suas nuances e de sua grandiosidade. Voltemos então a ele:
AMOR (continuação): Sua forma mais intensa e inconfundível é, de longe, o amor de mãe - este é incondicional, pelo menos para a grande maioria das mães (mas a recíproca não é verdadeira). Além do amor de mãe, há também o amor de pai (por que não incluir o sentimento do homem por seus filhos?), o amor de avós e avôs pelos netos, e o amor entre irmãos (isto quando a vida e a ganância pela herança não os separa). O amor também existe entre cônjuges - sim, pois o verdadeiro amor se mantém, mesmo quando diminui ou acaba o sexo (idosos), e a beleza física despenca (neste caso, em torno dos 45 anos, a despeito de todos os artifícios do mundo). Uma das formas mais sublimes de amor, além do amor de mãe, é a do amor ao próximo; esta é raríssima. Aliás, ela foi ensinada à humanidade há 2012 anos, mas, como se trata de matéria difícil, a humanidade ainda está aprendendo...
Enfim, o amor é tão rico que, se houvesse mesmo um dicionário de sentimentos, certamente este único substantivo preencheria a maioria das páginas. As outras, completamente em branco, significariam o grande vazio que é a vida humana sem ele, sobretudo quando a gente deixa de se amar... Aí está na hora de correr para um bom psicanalista...
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