Segunda-feira, 28 de setembro de 2020 - 10h20
Quando eu era menina, aprendi
com as colegas da vizinhança uma musiquinha que me deixou encantada: “Mãezinha
do Céu/ Eu não sei rezar/ Eu só sei dizer/ Que eu quero te amar / Azul é teu
manto/Branco é teu véu/ Mãezinha, eu quero/ Te ver lá no Céu.”
Cresci, tornei-me uma jovem
leitora, voraz, percorri grossos volumes, pois a literatura virou uma paixão em
minha vida. Porém, se algo não ia bem, e a solução fugia ao meu controle,
punha-me a cantar a musiquinha sacra da infância. Ainda hoje é assim.
A religiosidade é forte em meu
ser, assim como faz parte de mim a devoção à natureza, à vegetação, às árvores,
aos rios e mares, enfim, a tudo que o homem é incapaz de criar; creio que esta
impotência humana leva pessoas a destruir a maior criação de Deus: a Vida.
Aprisionam as aves, poluem
rios e mares, capturam animais de pequenos e grandes portes, como se estes
fossem seres inferiores e não tivessem direito a passar a existência em seu
próprio habitat. Tomei conhecimento de que algumas aves estão migrando da
Amazônia à região do Pantanal mato-grossense.
Tenho acompanhado o sofrimento
dos animais da floresta, as mortes banalizadas como se fizessem parte do ritual
das queimadas. Que maldito ritual é este? Combustão devido ao calor? Não creio.
Neste incêndio infernal, há a mão humana; tanto a maligna que propicia o
incêndio por motivos torpes, como a mão abençoada que tenta contê-lo.
Ponho-me a imaginar o
desesperos dos animais, de todos, pequenos, médios e grandes: para onde correr,
em que galho de árvore proteger-se, se tudo está em chamas, quilômetros à
frente, quilômetros atrás? Não há mais árvores, não há mais tocas, não há mais
a possibilidade de chegar aos rios, pois estes estão cercados pelas labaredas e
pela fumaça infernal.
No interior de minha casa,
onde vivo nutrindo a paz possível, vem-me a imagem da onça pintada, socorrida
com graves queimaduras nas patas; quanto desespero deve ter sentido aquele pobre
animal, correndo sobre brasas, numa tentativa de evitar a morte... Estou no
controle para evitar esta barbárie? Não.
Além de cumprir meus deveres de cidadã, só me cabe contestar as malditas
queimadas e clamar pela divindade que me aquieta o coração:
Mãezinha do Céu, /
Mãe que acalma tantas almas aflitas,
/
Volve teu olhar piedoso à
terra em chamas. /
Ouve o grito silencioso das
árvores /
Que tombam vencidas pelo fogo assassino.
/
Ouve o farfalhar das asas dos
passarinhos e das aves maiores/
Em sua busca desesperada por um galho verde para
pousar…/
Sanhaçus, beija-flores, curiós, bem-te-vis, peitos-roxos,
pipiras, curicas, araras, tucanos, patativas, arapongas, azulões, periquitos,
papagaios, corujas, aracuãs, tuiuiús, /
E milhares de outras espécies
que fazem parte das ricas florestas brasileiras com seu canto ao alvorecer e ao
anoitecer. /
Mãe Santíssima cheia de graça,
/
Estende teu véu sagrado sobre
as matas e sob o céu estrelado, /
Derrama sobre as chamas tuas
lágrimas de luz, /
Realiza um milagre para deter o fogo na floresta,
/
A fim de que vivam os macaquinhos, as preguiças,
/
Os tatus, as pacas, as onças, as formigas, as
cigarras, as cobras e todos os animais./
Mãezinha do Céu, eu não sei
rezar/
Eu só sei dizer que quero te
amar/
Azul é teu manto/ Branco é teu
véu/
Mãezinha, eu quero te ver lá
no Céu.../
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