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Sandra Castiel

JARDIM - Por Sandra Castiel


JARDIM

Com a alma devastada pela dor e os olhos rasos d’água, decidiu plantar um punhado das cinzas do amado, que guardara amorosamente em seu quarto numa caixinha de ouro. Sozinha na vida e na casa espaçosa, numa manhã ensolarada de domingo, dirigiu-se ao jardim, pequeno santuário de árvores frondosas, refúgio dos passarinhos que costumavam alegrar-lhes os dias com seu canto, e reduto verde das borboletas, as preferidas dele, que não se cansava de seguir-lhes os movimentos delicados a pousar aqui e acolá. Assim, ela escolheu o local ao pé de uma das árvores, cavou delicadamente com as próprias mãos e, ali, depositou as cinzas; enquanto misturava com a terra o que lhe restara dele, sussurrava-lhe palavras de amor e regava o solo com suas lágrimas. Transcorrido algum tempo, uma estranha folhagem brotara no local onde ficaram as cinzas; mais alguns dias e desabrocha, em meio aos pequenos ramos, uma flor que ela jamais vira: comovida, toma a flor entre os dedos e percebe que o formato e a cor das pétalas lembram-lhe os olhos dele, e, curiosamente, mesmo sob o sol, mantêm-se orvalhadas; pensa que podem ser as lágrimas dele que se misturaram às dela...

 

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