Sábado, 28 de abril de 2012 - 19h24
Gosto de novelas; desde as mais modernas e sofisticadas até aquelas bem pesadonas, mexicanas, com finais previsíveis.
As novelas da rede Globo estão cada vez mais ousadas e sofisticadas. Uma das personagens de Avenida Brasil, uma jovem culta que se passa por cozinheira, presenteia o patrão (da casa onde trabalha) com o livro A Metamorfose, de Franz Kafka. Esta foi a maneira que encontrou de fazê-lo despertar para a própria realidade: vive explorado, enganado, aviltado e traído pela própria mulher, mas não consegue enxergar o que está diante de seu nariz; apenas deixa-se estar.
No livro A Metamorfose, o sujeito, de tão oprimido, percebe um dia que havia passado por uma metamorfose: transformara-se literalmente num inseto; tenta levantar-se de manhã e não reconhece o próprio corpo; agora tem o dorso cascudo, várias patas curtas e ásperas; não consegue mais andar, arrasta-se pelas paredes deixando atrás de si um rastro viscoso, repugnante ao que resta de sua consciência humana.
Na novela, o personagem do patrão, vivido brilhantemente por Murilo Benício, é um ex-jogador de futebol que soube aproveitar os ganhos e agora, longe dos gramados, goza de uma vida confortável, ao lado de sua família, numa mansão no subúrbio do Rio. Tufão, este é seu nome, é uma figura emblemática; a cara de tantos homens que a gente conhece: olha, mas não vê; prefere ignorar, prefere não tomar conhecimento daquilo que está subjacente, nas entrelinhas da própria vida.
A alienação deste personagem, que me perdoem os homens, é típica do sexo masculino. Não me refiro a adultério, especificamente; no que diz respeito a este tema, normalmente os homens de todas as classes sociais vivem alertas, esta é a regra; porém, como toda regra...
A alienação masculina normalmente está relacionada à comodidade; homem tem preguiça; não apenas preguiça de conversar com a parceira sobre a vida de ambos, sobre a vida da família que construíram, sobre a quantas anda sua relação etc, mas também preguiça de pensar sobre o assunto.
Isto porque pensar sobre algo que eventualmente o incomoda nesse sentido pode levá-lo à constatação de que seu mundo ruiu. E uma vez desvelada a ruína de seu mundo, há que tomar uma atitude que mudará sua vida; e homem não gosta de mudanças, pelo menos o homem comum, este tão bem retratado pelo personagem da novela. O homem comum quer mesmo é a mesmice do dia a dia; opta por acreditar que está tudo bem, que continua sendo amado pela mulher, mesmo que ela traga na testa um recado escrito em tinta vermelha: NÃO TE AMO MAIS!
O recado está dado, mas ele se faz de desentendido e vai tocando a vidinha de sempre: trabalho, noticiário e futebol na TV, cerveja com amigos e muita, muita infelicidade. Esta chega devagarzinho e vai minando sua alma silenciada pela acomodação, sua alma mal amada, sua alma solitária e alienada. E assim esse homem envelhece e torna-se um espectro do que fora; o riso se faz triste, o andar se faz arrastado, o semblante se faz pesado.
A cozinheira também apresenta a Tufão o livro de Flaubert, Madame Bovary; uma história que trata de adultério. Diante da impossibilidade de contar ao sujeito toda a mentira que é a sua vida, ela tenta levá-lo à reflexão através da literatura; afinal, a vida imita a arte (ou vice-versa).
Numa época em que a evolução social da mulher vive em evidência, sobretudo pela histórica exclusão com que a figura feminina foi tratada ao longo de séculos, gostei desse olhar humanizado e analítico sobre o homem, tantas vezes perdido em si mesmo e oprimido pela própria família. Esperemos o desenrolar dos próximos capítulos de Avenida Brasil: uma novela que realmente dá o que pensar sobre a vida e sobre as relações humanas.
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