Quarta-feira, 7 de novembro de 2012 - 08h18
Tive uma amiga e colega professora, mulher cultíssima, urbana e conectada à modernidade, que esbanjava uma alegria de viver contagiante, independentemente das circunstâncias e eventuais adversidades; nada parecia surpreendê-la na vida; tinha uma leveza que simplificava tudo e era uma verdadeira levantadora de ânimos.
Tal era o vigor e a energia positiva emanados daquela personalidade fantástica, que hei de confessar que, daqui de baixo, donde vivo carregando minha insignificância neste quesito, chegava a sentir uma pontinha de inveja: Por que cargas d’água, desde a infância, complico tanto e me deixo afetar pelas coisas mais simples e “naturais” da vida?
Enquanto as crianças da vizinhança com as quais convivia pegavam as galinhas no quintal para que a mãe ou a cozinheira as matassem e as levassem pra panela, por exemplo, a criança que eu fui achava aquilo inaceitável e passava longas horas (e até longas noites) remoendo o triste destino das aves e dos animais criados nos quintais daqueles tempos idos: não conseguia me habituar com a ideia da morte dos bichos; afinal, todos pareciam viver tão felizes em seu pequeno-grande mundo... Por mais que ouvisse sobre cadeia alimentar etc, nada parecia justificar a matança. Isto permaneceu ao longo de minha existência.
Muitas décadas depois, outras questões passaram a povoar minhas noites insones, e estas, não menos complexas, são trazidas pelos monstros noturnos que se comprazem em assombrar as pessoas maduras (na verdade, eufemismo usado para velhas): - Tu vais morrer! Teus amigos estão morrendo! Estás na fila!
Como tal ideia não me causa estranheza ou medo, dou de ombros e viro de lado, esperando que o sono chegue perto, mas os repulsivos monstros continuam: - Pensas que morrer é só fechar os olhos e partir? Quem dera! O pior é a velhice, a demência, a U.T. I, os tubos, a respiração artificial, o leito de morte etc, enquanto lá fora há alegria! Isto é a vida, minha filha, e a vida não é bolinho não... – Debocham os monstros da madrugada.
Confesso que esta parte da história me deixa desconfortável e me traz à lembrança a querida amiga e colega professora, o ser completamente leve e descomplicado a quem visitei dia desses num hospital do Rio de Janeiro. Sofrendo de uma doença incurável e em fase terminal, sussurrou-me ao pé do ouvido: - Amiga, quisera eu ter sido analfabeta, ter vivido no campo plantando batatas, aproveitando um dia de cada vez, livre da inquietação das terríveis reflexões existenciais...
Surpreendida, respondi: - Mas você viveu um dia de cada vez, em toda sua plenitude, você passou a vida levando ânimo e alegria às pessoas!... Ao que ela retrucou com um sorriso melancólico: - Isso era o que eu fazia, amiga, para poder conviver com o pesado turbilhão que sempre carreguei dentro da cabeça...
Dito isso, virou-se de lado para descansar sua doença; enfim libertara-se das insuportáveis elucubrações sobre a existência.
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