Quarta-feira, 21 de dezembro de 2016 - 17h11
Neste Natal e neste ano que ora se finda, ponho-me a pensar, assim como tantas pessoas devem fazer, nos momentos mais marcantes de minha existência ao longo de mais esses 365 dias: tenho uma vida comum, vida esta compatível com a banalidade de minha própria persona e em nada me diferencio da grande massa de pessoas que constitui a humanidade: erros e acertos (mais erros do que acertos), saudades de natais longínquos, de entes queridos que não estão mais aqui e os medos, medos que comumente saem do armário quando a luz se apaga e sinto percorrer-me a espinha o gelo da fragilidade de uma mulher de minha idade (doença grave, perdas, demência e exclusão, entre tantos outros medos). Felizmente sou tomada pela lucidez de que não hei de me deixar levar por esses temores, afinal, que venham outros natais e a velhice! Não há como negar que a velhice vem acompanhada de seu cortejo de horrores. Porém, e isto é reconfortante, traz consigo as flores da sabedoria, da elevação dos sentimentos, da capacidade de perdoar, de deixar para trás as mágoas da juventude...Traz consigo a alegria de cada segundo vivido; traz consigo um olhar novo sobre o mundo, um olhar de (re) descobertas das belezas da criação; traz consigo o discernimento de que o tempo é agora e há que ser vivido da melhor maneira possível; traz consigo certa paz que possibilita a liberdade de apenas deixar-se estar; traz consigo a confiança de que não estaremos sozinhos jamais pois nosso universo interior, o universo de uma vida vivida, preenche–nos a mente e planta um sorriso em nosso rosto; traz consigo a certeza de que há que se cultivar a fé na inteligência superior que torna tudo isso possível; traz consigo a convicção de que a vida não é obra do acaso; traz consigo a placidez que se haverá de ter quando chegar a hora do fim.
Noutro dia, li um artigo (científico) sobre o tempo: o tempo do ser humano seria o passado e o presente; o passado parece melhor porque guardamos dele as lembranças mais doces, e nosso cérebro tem a capacidade de modificar favoravelmente essas lembranças; isso ocorre sem que nos demos conta. Segundo esse estudo científico, a duração do tempo presente é de apenas três segundos, tempo que leva a memória para processar o que naquele momento considera importante registrar. Concordo plenamente.
Neste Natal e neste final de ano, no aconchego do lar, ponho-me a pensar nas pessoas que não têm uma casa para voltar ao fim do dia; ponho-me a pensar nos desvalidos do mundo: os viciados, os moradores de rua, as prostitutas, os presidiários; ponho-me a pensar nas pessoas que enfrentam problemas terríveis como doenças muito graves e vivem seus dias em leitos de hospitais; ponho-me a pensar nas crianças enfermas, doentes de câncer, cabeças raspadas e sorriso nos lábios; ponho-me a pensar nas criancinhas recém-nascidas, tão indefesas, a lutar pela vida nas UTI’s neonatais; ponho-me a pensar nos idosos que são deixados em asilos e vivem a esperar por uma visita que raramente ou nunca chega; ponho-me a pensar nas pessoas desempregadas e endividadas que precisam sustentar suas famílias; ponho-me a pensar nos habitantes dos países que vivem em eterno conflito, nas crianças ensanguentadas, violentadas e famintas, pessoas que se lançam aos mares em busca de vida em lugares distantes dos seus; ponho-me a pensar em nosso próprio país, na ganância, na usurpação, na falta de solidariedade para com os necessitados. A cada dia que se inicia, e especialmente neste Natal e nestes momentos do ano que ora se finda, oro por todos! Penso na grandiosidade do significado do Natal e nos valores semeados por Jesus, o espírito mais puro que viveu entre nós; ensinamentos marcados com seu próprio sangue.
Desejo a todos, sobretudo aos leitores, um Natal e um ano novo de muita reflexão sobre o que realmente é importante nesta existência: paz, compaixão para com o próximo e gratidão a Deus pelo presente da vida.
Feliz Natal! Feliz 2017!
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