Quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013 - 09h22
Às vezes imagino que existe um grande templo, em uma dimensão conectada à nossa; um templo onde vivem todas as palavras de todas as línguas. Nesse templo as palavras ficam separadas de acordo com a procura e com a natureza de cada uma.
Bem, se há um templo, há um guardião, na verdade mais do que isso, trata-se de um apaixonado colecionador de palavras, alguém com perfil meio divino e meio humano, que cuida de todas as palavras, diuturna e carinhosamente, através dos milhares de séculos.
Algumas delas são muito solicitadas, afinal, nós as repetimos mecanicamente e sem qualquer esforço de memória; outras há, porém, que ficam ali, arquivadas em seu lugar no grande templo, um tanto amarguradas pelo esquecimento; então, quando alguém recorre à memória ou ao dicionário para usá-las, elas renascem, gloriosas, com o mesmo sentimento que invade o coração de um velho professor, quando lembrado com carinho por algum de seus ex-alunos.
Acredito que as palavras, assim como as pessoas, são agrupadas de acordo com a afinidade; mortee vida, por exemplo, ficam muito longe uma da outra; não seria de bom tom colocá-las juntas, tanto que o guardião as situou nos extremos do templo, pois sabe que as palavras, assim como as pessoas, têm vontade própria, são movidas a sentimentos. Mas como separar morte e vida se, quando alguém morre, é comum ouvir-se: “- É a vida!” Neste quesito, o próprio guardião se confunde um pouco, mas felizmente seu lado divino esclarece tudo e nosso colecionador de palavras segue em frente.
Isto, contudo, não o impede de sofrer pelas palavras; gostaria que palavras antigas como louvaminhas, pintalegrete, aspérrimo, estipêndio, patuscada, entestar, pelouros, derrear, préstito (e tantas outras) fossem solicitadas de quando em vez; entristece-se ao vê-las ali, guardadas ano após ano, esquecidas e amarguradas, assim como seus falantes; aliás, a maioria deles, gloriosa, já partiu; vai ver não se acostumaria mesmo com as palavras novas, e tantas invencionices nesse campo.
Palavras de amor podem ser guardadas juntinhas umas das outras, nunca dá confusão; e o guardião até se diverte com a imaginação humana que dá luz a novas palavras nesse sentido, como se já não bastassem amorzinho, benzinho, mô (abreviatura de amor) etc.
De tanto conviver com todas as palavras, o guardião identifica-se com sua humanidade, com suas alegrias e tristezas, com seu sucesso e com seu abandono. E meditando sobre isso, chega à conclusão que as palavras passam a se parecer com as pessoas que as escolhem: as mais sisudas e longas, com os mais velhos (há exceções); as mais curtinhas e engraçadas, com as crianças e jovens.
O fato é que as palavras vivem lá, naquele templo da minha imaginação, cuidadas, polidas, arrumadas, tristes, alegres, apaixonadas, deslembradas, esquecidas ou não, esperando que nós, humanos, façamos nossas escolhas.
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