Quinta-feira, 14 de março de 2013 - 10h27
A proximidade do inverno da vida levou-me a refletir sobre uma curiosidade: por que, à medida que envelhecemos, as lembranças remotas tornam-se cada vez mais nítidas em nossa mente? Quanto mais velhos, mais nos reportamos ao passado longínquo, à mocidade e à infância; passamos a lembrar tudo com detalhes: nossos pais ainda jovens, a infância junto a nossos irmãos, a fisionomia de avós, avôs e tias, as brincadeiras com os primos, as casas onde vivíamos, a vizinhança, a rotina de nossa vida então, a escola, os colegas de turma, as professoras que tivemos, eventuais apuros esolares, as broncas etc.
Muitas dessas lembranças nos enchem de alegria; outras, nem tanto, mas isto pouco importa, pois o aspecto mais interessante nisso tudo é que nelas nos encontramos; só a partir dessas lembranças nos damos conta, enfim, de que trazemos conosco um sentimento novo e dorido: o sentimento de que nos perdemos de nós mesmos em algum momento da longa estrada; no espelho, o rosto castigado que contemplamos em nada lembra nosso próprio rosto, aquele com o qual nos reconhecíamos; este que nos contempla agora se parece com os rostos de nossos pais na velhice. E isto é algo que, se nos enche de ternura, também de certa forma incomoda, pois envelhecemos e não nos demos conta, tão ocupados estávamos cuidando da vida e tentando assegurar futuro melhor para os filhos.
Tenho a sensação de que, intimamente, cada ser humano, quando jovem, pensa que vai envelhecer e permanecer com a mesma cara, porque acredita que é especial; e isto é bom, mas não é assim que ocorre.
Algumas pessoas conseguem retardar um pouquinho o processo implacável do envelhecimento, mas só um pouquinho, porque o chamado da natureza é muito, muito forte, e esse chamado impõe ao nosso corpo sua realidade etária, não tem jeito.
Tudo isso me leva a pensar que seguimos a vida partindo de um ponto inicial e, na velhice, voltamos inevitavelmente a ele, daí as lembranças remotas impondo-se sobre as lembranças recentes. Por mais que nos distanciemos do ponto de partida, acabamos sempre voltando a ele, pois é ali que fica o cerne de nossa identidade, de quem realmente somos. Nesse processo, há uma espécie de tentativa de resgate de nossos primórdios, uma espécie de criançamento de nossa alma. Esse sentimento levou o poeta Manoel de Barros a afirmar que não caminhamos para o fim; caminhamos, sim, para as origens.
O interessante nisso tudo é que todos, absolutamente todos, se vivermos até a velhice, fatalmente empreenderemos esse caminho de volta; um caminho, aliás, agradável de ser percorrido, pois nele vive a criança que fomos algum dia.
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