Sábado, 7 de janeiro de 2012 - 09h09
O ano vai acabar em 2012, segundo a previsão Maia.
Há pessoas que se debruçam sobre este assunto há décadas: assistem a palestras sobre profecias, compram livros de vários autores sobre essa antiga civilização, estudam diferentes enfoques, enfim, essas pessoas estão convictas de que 2012 é o último ano da atual população terrestre; todos irão morrer, ou seja, os que sobreviverem até o dia 21/12/2012 morrerão no mesmo dia e na mesmíssima hora.
Isso me reporta à infância, pois essa conversa sobre o fim do mundo é muito antiga: quando me vinham com esse tema, eu ficava deveras impressionada e responsabilizava imediatamente Deus. Então tinha pesadelos, sonhava que Deus, um velho alvo de também alvas e longas barbas brancas, enfurecia-se com a humanidade, por tantos pecados, e lançava do Céu uma bola de fogo sobre a Terra. A bola de fogo nem era tão grande assim, mas causava um estrago de proporções terríveis, ninguém sobrevivia.
Nós, as crianças da Rua Afonso Pena, acreditávamos que o fim do mundo começaria pela BR. Sim, porque para nós, o mundo inteiro se resumia a Porto Velho e outras cidades da Amazônia, e o máximo da civilização era a BR-29. O estrago da Bola de Fogo começaria por ali, acabando com a estrada. Aliás, na época, havia uma história bastante conhecida envolvendo o local. Os motoristas que transitavam pela BR-29 costumavam avistar, na negritude da noite, uma luz a sua frente. Então seguiam a luz, pensando tratar-se de faróis de outro carro, mas jamais a alcançavam, pois era uma luz fantasma.
No grupo escolar não se falava em outra coisa, a não ser no fim do mundo; as crianças ficavam agitadíssimas, mas ninguém ousava comentar o tema com a professora, imagine... Por sua vez, a professora, se ouvia sobre assunto, fazia ouvidos moucos e todos agiam como se nada estivesse ameaçando suas vidas.
Se fosse hoje, certamente as “tias” da escola aproveitariam para explorar a criatividade e os dons artísticos das crianças: o tema seria trazido à classe pelas próprias crianças, e a “tia” tranquilizaria os alunos, assegurando que nada iria mudar; estes fariam desenhos coloridos sobre as belezas naturais do planeta em vez dos desenhos de quase sempre sobre suas idas ao shopping.
Assim levava-se a vida na época de minha infância: de vez em quando pairava sobre as pessoas a ameaça do fim do mundo; havia certo temor a Deus, os homens eram, grosso modo, tementes, o que impedia, quem sabe, tantas atrocidades.
Lembro-me de um comentário de minha mãe, diante de uma alusão ao fim do mundo: -Não acredito que o mundo acabe, acredito, sim, que os homens acabem com ele!
Levei dias e dias remoendo esse comentário, até que insisti em maiores explicações, e ela -para acalmar de vez tanta curiosidade -falou para nossa rodinha de crianças que, no tempo da II Guerra, os nazistas destruíram a Europa e por pouco não derrubaram a Torre Eiffel, uma das maravilhas do mundo. Ela ouvira tudo pelo rádio. Assim dizendo, deu por encerrada a explicação e foi tratar da vida, porque era uma mãe ocupadíssima.
Bom, como meu mundo não ia além de alguns quilômetros da BR-29, dos limites da estrada de ferro e de onde se podia chegar através do Leopoldo Perez, do Augusto Montenegro e do Lobo Dalmada - os navios de então -,fiquei a imaginar os nazistas ou a bola de fogo lançada por Deus derrubando as três Caixas D’água, o Barão do Solimões, o Maria Auxiliadora, o Colégio Dom Bosco, o Bancrévea Clube, o prédio da Madeira-Mamoré, o clube Ypiranga, o Carmela Dutra, o Palácio Presidente Vargas, o Porto Velho Hotel, a Casa Seis, o Café Santos, a Prefeitura Municipal, além de Guajará Mirim, Belém, Manaus e adjacências.
Se a previsão Maia se concretizar, nenhuma alma sobrará pra contar a história.
No Rio de Janeiro, a capital mais famosa do país, tombarão todos os prédios, inclusive a mais recente maravilha do mundo - o Cristo Redentor, além de toda a decoração natalina (sim, porque o fim do mundo já tem data: 21/12). Se for um tsunami, tudo isso irá ficar boiando a céu aberto, aliás, a nada, pois não haverá mais céu.
Em Rondônia, a calamidade pode vir do seio da floresta, que se vingará de maneira contundente das sucessivas queimadas a que foi submetida; se vingará da ganância forasteira que derrubou árvores milenares para plantar pastos e erguer ricas fazendas; se vingará dos monstrengos de concreto que roubaram a energia natural das preciosas cachoeiras, sacrificando a vida de milhares de peixes e outros animais da região; se vingará da exploração desenfreada do ouro, que poluiu as águas límpidas. Tudo, tudo mesmo, arderá em chamas, tudo será reduzido a pó, os caudalosos rios serão apenas filetes de cinzas em meio aos escombros. Esta será a sanha vingativa da natureza.
Ufa! Tomara que a previsão Maia seja igual às do tempo de minha infância... Acabava-se este assunto num domingo, com um sorvete de casquinha, na saída da matinê do Cine Resk.
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