Sábado, 18 de novembro de 2017 - 11h43
De vez em quando entro numa espécie de apatia com relação ao exterior, causada, talvez, por certo sentimento de impotência face ao que não pode ser refeito, modificado; isto passou a ocorrer há alguns anos, quando finalmente parei de buscar, fora de mim, minha identidade e meu espaço no mundo. Penso que talvez este fenômeno esteja associado à fase da vida que ora me encontro (outono/inverno).
Quando se é jovem, a gente não olha para dentro, a gente não enxerga nossas limitações, nossas dificuldades morais, nossos erros; comumente acreditamos que estamos sempre certos. Aliás, na juventude e na idade adulta, aguçamos a percepção para os defeitos do próximo, para as limitações do próximo, para as dificuldades do próximo. Quanta ilusão! Hoje, do alto de minhas muitas décadas vividas, consigo olhar para dentro de mim, pelo retrovisor do tempo, e confesso que não me orgulho do que vejo: poderia ter praticado o bem com maior frequência, acolhido, auxiliado, compreendido, abraçado pessoas e causas, consolado aflitos, elogiado mais os inseguros, enfim, poderia agora sentir a alma plena de importantes realizações, coisas que deveria ter feito mas não fiz, não com a constância devida.
No momento em que esse olhar crítico sobre minha própria existência acontece, sou acometida pela apatia à qual me referi; então, como um urso que habita as montanhas geladas precisa hibernar, hiberno eu numa viagem para dentro do meu próprio ser, e, cuidadosamente, tento arrumar as memórias no cérebro, numa tentativa de aprofundar a compreensão sobre os episódios que marcaram minha subjetividade e minha vida.
O cérebro humano é como um filme cheio de histórias, vozes, sons e sensações de calor ou frio, de tristezas e alegrias, de humilhações e glórias, de risadas e lágrimas; está tudo lá, arquivo vivo à nossa disposição. Nesses momentos revisito a infância, a juventude e a idade adulta, os pais, as irmãs, os parentes, a vizinhança, as escolas por onde passei, as cidades onde morei, os momentos bons, os momentos ruins, os amigos, os amores que passaram por minha vida, o filho que tenho e os filhos que deixei de ter (tive apenas dois, o segundo não sobreviveu à gravidez problemática; por que não adotei tantos outros?), os mestres que me prestaram auxílio na aquisição do conhecimento acadêmico e ensinaram-me com tanta generosidade a percorrer grossos volumes que contêm esse conhecimento, os inúmeros alunos a quem tentei transmitir as experiências adquiridas ao longo da profissão, as casas onde vivi desde a meninice, os animais que comigo compartilharam suas vidas breves e a quem continuo dedicando tanto amor...
Quando isso acontece, passo por período em que falo menos, converso menos, como menos (ou simplesmente não como), o riso se faz superficial; não diria que me torno infeliz, mas muda-me o semblante. No fim da hibernação, concluo que passei grande parte da vida a cuidar apenas dos interesses imediatos, e eram tantos que não me sobrava espaço para mais nada. Quanta imaturidade! Consciente da grandiosa imaturidade que fez parte de meu ser por tanto tempo, volto-me ao presente e tento, com a alegria que herdei de Deus, cultivar uma atitude positiva, focada no aprendizado do que é realmente importante e assim elevar, a passos lentos, o espírito.
Tudo acontece tão rapidamente... Quando se vê, a vida já passou, a energia para as realizações realmente significativas (atitudes que podem transformar vidas) não existe mais: o corpo envelheceu, as tarefas do dia a dia vão se tornando mais difíceis, as mazelas da idade passam sobre o ser como um trator. Assim é a existência sobre a terra, breve. E, grosso modo, assim vivemos, cada qual debruçado sobre o próprio mundo.
Felizmente a humanidade é composta também de grupos de exceções, seres evoluídos que dedicam sua vida ao próximo desde a juventude, missionários do bem, mensageiros da luz, que, como candeias, iluminam a longa noite escura deste mundo.
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