Sábado, 6 de agosto de 2016 - 11h23
Era um político importante na sua influência: transitava pelo senado e pela câmara de seu país, do mesmo modo pelos suntuosos gabinetes dos ministros e até do presidente da república; quando falava, seus pares paravam para ouvi-lo, afinal era dele que partiam as grandes ideias, as negociatas, o apoio para campanhas políticas; assim era tratado pelos demais com formalidade e rapapés.
Ocorre que o tal político, fora dos muros palacianos, tinha uma paixão: os passarinhos! E assim, para mantê-los próximos a si, tratou de adquirir belíssima e vasta chácara, onde os pássaros gozavam de plena liberdade, local aprazível, que fazia o deleite de convidados ilustres; mas havia algo que incomodava o político um tantinho: todos o bajulavam, até os demais animais que viviam na chácara, menos os passarinhos, e esta realidade de certo modo o humilhava.
Assim, cogitou que precisava conviver mais com os pássaros. Pensou em Francisco de Assis: como conseguira Francisco a proeza de fazer amizade com animais tão ariscos? Curioso, aprofundara-se nos hábitos do santo para compreender melhor essa relação inusitada, e descobrira que os passarinhos pousavam sobre os ombros e braços de Francisco, como se estivessem a ouvir-lhe as palavras doces; então, certamente seria uma questão de treino, pensou. Desse modo, postava-se sob as frondosas árvores, repletas de dezenas de passarinhos, à espera de que algum deles pousassem sobre seu corpo; nesses momentos, chegava a cantarolar baixinho, quem sabe sua voz, que tantos humanos paravam para ouvir, não atrairia os passarinhos? Inutilmente. Depois de meses e meses de tentativas, rendera-se às evidências: não era Francisco de Assis!
E assim, passou o resto da vida a contemplar os passarinhos e a ouvir-lhe os gorjeios, mas sem o contentamento do toque. E os passarinhos passaram a vida a cantar e a voar sobre a arrogância do político.
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