Sábado, 15 de dezembro de 2012 - 15h34
Toda vez que remexo em papéis guardados, na tentativa de enfim colocá-los em ordem, acabo redescobrindo coisas que de alguma forma me causaram impacto; este é o caso do Cemitério dos Pretos Novos, matéria publicada no jornal O Globo, em 19 de novembro de 2011.
Em 1990, durante a reforma de uma casa no bairro da Gamboa, no centro antigo da cidade do Rio de Janeiro, foram encontradas ossadas humanas em número significativo. A descoberta chamou a atenção de arqueólogos do Instituto de Arqueologia Brasileira que ali concentraram pesquisas. O trabalho, que despertou o interesse de outras instituições e da comunidade científica do país, acabou trazendo à luz, anos depois, um drama de 200 anos: O Cemitério dos Pretos Novos.
Próximo ao porto do Rio, no vergonhoso tempo da escravatura, ficava situado o Mercado de Escravos do Valongo. Pessoas negras (a maioria homens, jovens e meninos) eram traficadas para o Rio de Janeiro, provenientes de várias partes da África, numa viagem tenebrosa: muitos não conseguiam sobreviver às condições desumanas da travessia do Atlântico. Havia os que chegavam doentes e morriam logo após o desembarque. Alguns sobreviventes permaneciam no terrível Mercado do Valongo aguardando negociação; outros já estavam vendidos para fazendeiros de diversos estados do país; para estes, a viagem continuava.
Os mortos e provavelmente os moribundos (naquele contexto de horror e crueldade, quem se ocuparia em tratá-los?) eram atirados no Cemitério dos Pretos Novos. Este era um local cercado onde os cadáveres eram queimados ou simplesmente depositados, insepultos: em covas abertas, os corpos eram empilhados. Com o passar do tempo, em virtude do grande número de corpos, os mortos tinham os ossos quebrados para que ocupassem menos espaço. O terrível Cemitério dos Pretos Novos era uma visão de horror aos africanos escravizados, pois podia ser avistado do porto do Rio, porto que à época era um grande centro de tráfico de escravos, e do Mercado do Valongo.
O Cemitério dos Pretos Novos, de acordo com a matéria do jornal O Globo, foi criado pelo Marquês do Lavradio, em 1760, e tal fábrica de horrores (assim o define o autor da reportagem) esteve ativa ao longo de 70 anos.
Com a proibição do tráfico de escravos, o Cemitério foi fechado (oficialmente por motivos “legais e sanitários”). Ao longo do tempo, a cidade passou a aterrar áreas pantanosas e a praia. Assim, toneladas de areia ocultaram durante todo esse tempo a triste história de jovens e crianças que foram arrancados de sua pátria e de suas famílias pela ganância criminosa e bárbara de tantos nomes “ilustres”, nomes cujas fortunas tiveram origem nessa fonte de água podre: a exploração e a escravidão do próximo.
Ponho-me a imaginar como conseguiam desfrutar a vida ou simplesmente viver em paz, naquela época, os brasileiros brancos (aliás, considerados brancos) que não aceitavam conviver com a escravidão ou se locupletar dela, como tantos outros; acho que não conseguiam.
Fato é que, em qualquer época e em qualquer lugar do planeta, o tilintar das moedas produz famigerados algozes, seja de pobres jovens e crianças arrancados de sua pátria (no caso dos africanos), seja de uma população inteira de uma cidade, munícipes privados das conquistas do desenvolvimento humano, um desenvolvimento que possui pré-requisitos: serviços eficientes de saneamento básico, de saúde e de educação. Se aos algozes dos negros escravizados o importante era garantir a rica colheita de suas safras para abarrotar seus cofres com barras de ouro, aos algozes da coletividade o importante é o consumo desenfreado, o acúmulo de bens, as viagens ao exterior, as mansões, os carros importados, o luxo e a ostentação. A qualidade de vida da população que se dane. Diferentes? Não creio.
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