Terça-feira, 15 de outubro de 2019 - 12h56
Na minha meninice, a data de
hoje, 15 de outubro, era uma data magna: Dia do Mestre! Costumávamos ver nas
revistas da época que era comum os alunos (crianças) oferecerem uma maçã à
professora, colocando a fruta vermelha e simbólica sobre sua mesa de trabalho;
mas, na minha meninice, isto não acontecia por aqui, afinal raramente aparecia
uma fruta como esta em nossos lares.
Sempre fui aluna de grupo escolar
em Porto Velho (desde a alfabetização até o quinto ano, assim era o chamado
curso primário) e venerava todas as professoras que passaram por minha vida; no
Dia do Mestre, como eu não tinha maçã para oferecer, fazia uma espécie de
cartão, com folha de caderno, onde demonstrava meu carinho pela professora,
através de frases singelas e de desenhos: tentava reproduzir no papel a figura
de minha professora, segurando sua pasta e vestida em seu uniforme azul e
branco, rodeada de crianças, flores, borboletas e passarinhos. No alto do
papel, as palavras nascidas de meu sentimento de criança, palavras de gratidão
e admiração.
Aprendi a ler no Grupo Escolar
Barão do Solimões e até hoje recordo-me do doce semblante de minha professora:
chamava-se Adélia, era uma flor. Nos anos seguintes, descobri a beleza das
poesias de Olavo Bilac contidas nos livros de leitura; apaixonei-me
perdidamente por esses livros: porém, era apenas um livro para cada ano
escolar.
Lembro-me até hoje dos meus versos preferidos aos 9 anos de idade, versos de Olavo Bilac.
Ave Maria
“Meu filho, termina o dia/A
primeira estrela brilha/Procura tua cartilha/E reza a Ave-Maria/O gado volta aos
currais/O sino canta na Igreja/Pede a Deus que te proteja/E que dê vida aos
teus pais/Ave Maria!...Ajoelhado/Pede a Deus que, generoso/Te faça justo e
bondoso/ Filho bom e homem honrado/ Que Teus pais conserve aqui/ para que
possas um dia/ Pagar-lhes em alegria/ O que fizeram por ti/ Reza e procura o
teu leito/ Para adormeceres contente/ Dormirás tranquilamente/ Se disseres
satisfeito:/Hoje pratiquei o bem/ Não tive um dia vazio/ trabalhei , não fui
vadio/ E não fiz mal a ninguém”
Aprendi o que sei com minhas
mestras do grupo escolar; não que elas soubessem tudo. Mas sabiam o principal:
apresentar às crianças o caminho do saber, do conhecimento, e, sobretudo, os
princípios que os antigos livros de leitura continham: honradez, respeito aos
pais e aos mais velhos, disciplina, amor ao próximo, religiosidade,
honestidade, enfim, coisas que os livros escolares de hoje consideram
obsoletas: em época do “politicamente correto”, quem impõe os limites entre o
que é certo e o que é errado são as crianças; uma pena!
Gratidão aos mestres que tive
ao longo da vida! Gratidão sobretudo `a grande mestra de minha existência
inteira: professora Marise Castiel, minha mãe.
Viva o Dia dos Mestres!
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