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Sandra Castiel

OS NOSSOS MESTRES


OS NOSSOS MESTRES - Gente de Opinião

Na minha meninice, a data de hoje, 15 de outubro, era uma data magna: Dia do Mestre! Costumávamos ver nas revistas da época que era comum os alunos (crianças) oferecerem uma maçã à professora, colocando a fruta vermelha e simbólica sobre sua mesa de trabalho; mas, na minha meninice, isto não acontecia por aqui, afinal raramente aparecia uma fruta como esta em nossos lares.

Sempre fui aluna de grupo escolar em Porto Velho (desde a alfabetização até o quinto ano, assim era o chamado curso primário) e venerava todas as professoras que passaram por minha vida; no Dia do Mestre, como eu não tinha maçã para oferecer, fazia uma espécie de cartão, com folha de caderno, onde demonstrava meu carinho pela professora, através de frases singelas e de desenhos: tentava reproduzir no papel a figura de minha professora, segurando sua pasta e vestida em seu uniforme azul e branco, rodeada de crianças, flores, borboletas e passarinhos. No alto do papel, as palavras nascidas de meu sentimento de criança, palavras de gratidão e admiração.

Aprendi a ler no Grupo Escolar Barão do Solimões e até hoje recordo-me do doce semblante de minha professora: chamava-se Adélia, era uma flor. Nos anos seguintes, descobri a beleza das poesias de Olavo Bilac contidas nos livros de leitura; apaixonei-me perdidamente por esses livros: porém, era apenas um livro para cada ano escolar.

Lembro-me até hoje dos meus versos preferidos aos 9 anos de idade, versos de Olavo Bilac.


Ave Maria

“Meu filho, termina o dia/A primeira estrela brilha/Procura tua cartilha/E reza a Ave-Maria/O gado volta aos currais/O sino canta na Igreja/Pede a Deus que te proteja/E que dê vida aos teus pais/Ave Maria!...Ajoelhado/Pede a Deus que, generoso/Te faça justo e bondoso/ Filho bom e homem honrado/ Que Teus pais conserve aqui/ para que possas um dia/ Pagar-lhes em alegria/ O que fizeram por ti/ Reza e procura o teu leito/ Para adormeceres contente/ Dormirás tranquilamente/ Se disseres satisfeito:/Hoje pratiquei o bem/ Não tive um dia vazio/ trabalhei , não fui vadio/ E não fiz mal a ninguém”

Aprendi o que sei com minhas mestras do grupo escolar; não que elas soubessem tudo. Mas sabiam o principal: apresentar às crianças o caminho do saber, do conhecimento, e, sobretudo, os princípios que os antigos livros de leitura continham: honradez, respeito aos pais e aos mais velhos, disciplina, amor ao próximo, religiosidade, honestidade, enfim, coisas que os livros escolares de hoje consideram obsoletas: em época do “politicamente correto”, quem impõe os limites entre o que é certo e o que é errado são as crianças; uma pena!

Gratidão aos mestres que tive ao longo da vida! Gratidão sobretudo `a grande mestra de minha existência inteira: professora Marise Castiel, minha mãe.

Viva o Dia dos Mestres!    

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