Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Sandra Castiel

PORTO VELHO: CEM ANOS!



Porto Velho... cidade de minhas primeiras letras, Pôrto-Velho, no Grupo Escolar Barão do Solimões. Porto Velho da infância, nos comícios dos cutubas e peles-curtas, de Aluízio Ferreira e Renato Medeiros; Porto Velho das famílias pioneiras e tradicionais,  das professoras de azul e branco, das festas no velho casarão do Ypiranga e do Bancrévea Clube; Porto Velho das noites dançantes na varanda do Pôrto-Velho Hotel; Porto Velho da Madeira-Mamoré, das viagens ao amanhecer no trem encantado, até Guajará Mirim, das paradas intermináveis: Santo Antônio, Zingamoche, Teotônio, Pedra-Canga, São Carlos, Luzitânia, São Patrício, Caracol, Jaci-Paraná (hora do  almoço), Caldeirão do Inferno, Jirau, Três Irmãos, Mutum-Paraná e Abunã (pernoite no Hotel Brasil). Mal o dia raiava e a saga continuava selva adentro: Presidente Marques, Penha Colorado, Taquaras, Araras, Periquitos, Chocolatal, Ribeirão, Vila Murtinho, Lages, Pau Grande, Iata, Bananeiras, e o destino final: a Pérola do Mamoré!

Porto Velho do centro acanhado e inesquecível. E o porto-velhense, quando ia ao comércio, falava assim: -Eu vou lá embaixo!

E o comércio era basicamente isto:  Mercado Central, Feira Livre, Café Santos, Bar do Arara, Casa das Canetas, Restaurante Plaza, Casa Saudade, O Mundo Elegante, Bazar Bezerra, Casas Pernambucanas, Casa Paris,  Casa Girão,  Lanchonete Delta, Loja do Seu Abdon, Restaurante Almanara, Funerária Raposo, Panificadora Raposo, Drogaria Amora, Farmácia do Seu Boanerges, Sapataria Moderna, Perfumaria Gardênia Azul, Salão de Beleza Eline, Mourão e Irmãos, Banco da Borracha,  Mário Alfaiate, Lojas Camacho, Boutique da D. Nega, Joalheria Cabeça Branca, Loja do Seu Miguel Arcanjo, Foto Pereira, Foto Natal, Cine Lacerda, Cine Brasil e Cine Teatro Resk, Porto Velho Hotel, Hotel Vitória, Cia. Cruzeiro do Sul (Seu Bichara); Porto Velho do tempo da  Radional,  Porto Velho da Livraria do Seu Pedro Neca e da Livraria Violeta (Seu Ovídio), Porto Velho da Maria Eunice e da Anita, Porto Velho da Escola Normal  Carmela Dutra, do Colégio Dom Bosco e do Instituto Maria Auxiliadora, Porto Velho do Danúbio Azul Bailante Clube, do Ferroviário e do Flamengo, Porto Velho da Fábrica de Borracha, dos jornais O Guaporé e Alto Madeira. Porto Velho da Rádio Caiari, dos avisos para o interior, do Hospital São José e da Maternidade Darcy Vargas; Porto Velho da ladeira da Prefeitura, Porto Velho dos apitos da usina, de manhã cedo e  na hora do almoço, Porto Velho da Catedral, do Padre Chiquinho e de Dom João Batista Costa, das procissões do Senhor Morto e das cantilenas das filhas de Maria; Porto Velho dos navios Leopoldo Perez e Augusto Montenegro, embarcações abarrotadas de gente cabocla que cruzava com coragem as águas pesadas dos rios amazônidas...  Quanta saudade!

Porto Velho, outrora pequenina, de ruas barrentas e quase desertas, bairros simples, gente morena, sotaque caboclo tão nosso e tão regional: Caiari, Arigolândia, Pedrinhas, Areal, Mocambo, Baixa da União, Alto do Bode, Olaria, Tanques, Nossa Senhora das Graças, Km 1. Porto Velho das domingueiras, matinê no Resk e passeio na Praça Rondon: olha a Furiosa, da Guarda Territorial, com Mestre Neves à frente, tocando no coreto, gente!

Porto Velho das noites estreladas, Porto Velho dos candeeiros Aladim e Petromax, Porto Velho da passarinhada, ao anoitecer e ao amanhecer, Porto Velho das palheiras solitárias que ornavam a paisagem e dos igarapés caudalosos que faziam a festa da criançada; Porto Velho dos açaizeiros, das pupunheiras e dos tucumanzais; Porto Velho das tacacazeiras, cheiro de tucupi e de jambu, ao pôr do sol; Porto Velho dos seringueiros que circulavam pelas ruas da cidade com suas botinas de seringa. Quanta saudade!

Porto Velho dos seringais, Porto Velho da borracha e da cassiterita, Porto Velho do rio Madeira e das abundantes cachoeiras, de Teotônio, de Santo Antônio e de Samuel... Porto Velho do Areia Branca, da Estrada dos Japoneses, da BR 29; Porto Velho das histórias fantásticas do boto que vira homem, contadas à luz do luar... Quanta saudade!

Porto Velho dos carnavais esplendorosos, dos blocos do Ypiranga e do Bancrévea Clube, do Bloco do Sol e do Bloco da Chuva, das escolas de samba Pobres do Caiari e Diplomatas do Samba... Quanta saudade!

Porto Velho de nossos pais e irmãos, e até dos pais de nossos pais; Porto Velho de nossos filhos e dos filhos de nossos filhos... Como te amamos!

Recebe hoje nossa humilde homenagem!

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Afinal, o que é o tempo?

Afinal, o que é o tempo?

Quando eu era nova, o tempo não era um tema que eu considerasse instigante. Para mim bastava pensar que a vida é o que é, ou seja, tudo se modifica

O quarto de minha mãe

O quarto de minha mãe

Ela não era fumante, nunca foi, e se casou com meu pai, que fumava desde a meninice. Ela passava mal com o cheiro forte do cigarro impregnado nos le

De mãos dadas

De mãos dadas

O mundo em que nasci não é este que Deus está me permitindo ver e viver.  Em um mundo analógico, as mudanças eram lentas; as crianças obedeciam às r

Porto velho:  natureza em chamas

Porto velho: natureza em chamas

Era madrugada de quinta-feira quando despertei; minha respiração estava difícil, as vias respiratórias pareciam ter dificuldade em cumprir sua funçã

Gente de Opinião Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)