Quarta-feira, 2 de outubro de 2013 - 10h21
Nasci em Porto Velho há mais de seis décadas. Lembro-me da cidade acanhada e cercada de mata virgem, cidade com ruas estreitíssimas e casas simples encravadas no mato, lugar onde todos se conheciam, e as pessoas que aqui se estabeleciam não pensavam em enriquecer, mas apenas em bem viver. Isso fazia toda a diferença. Não havia roteiros turísticos para a Europa ou coisa que o valha; não havia funcionários fantasmas na máquina administrativa, ou escândalos de corrupção, era outro tempo. Mas nós, viventes daquela época, não sabíamos disso.
Vivíamos a sonhar com o progresso, com o dia em que teríamos um aparelho de TV na sala, energia 24 horas e ruas asfaltadas e saneadas. Contudo, mesmo sem isso, éramos felizes, pois os moradores de Porto Velho bastavam-se como uma grande família: fulano está internado no Hospital São José? Cicrano teve que viajar para tratar da saúde? Acompanhava-se toda a notícia torcendo e orando para que a situação acabasse bem, e era preciso manifestar à família a solidariedade, os préstimos, tudo com solicitude.
Sucederam-se as décadas, chegou a TV e o asfalto. Mas a Porto Velho chegou também o sentimento de manter total precariedade do saneamento básico e das instituições, como se a população fosse acéfala, uma população que não questiona, não reclama, não reivindica. Parece que qualquer coisa vale, obras feitas de qualquer jeito, ruas sem meio-fio aonde o asfalto vai-se corroendo pelas laterais, revestimentos de má qualidade que não duram e não suportam as intempéries regionais, esgotos a céu aberto, piscinas de lama, escuridão nas ruas, quilômetros e mais quilômetros de descaso.
Por ocasião da polêmica que envolveu a viabilidade ou não da instalação aqui da empresa Santo Antônio Energia, polêmica que discutiu, sobretudo, os danos ambientais, as pessoas que acataram a ideia devem ter pensado na contrapartida, sobretudo nos benefícios para a cidade de Porto Velho. Era a grande oportunidade de alavancar a qualidade de vida na cidade... Quanta ilusão! A contrapartida desceu pelo ralo, diluiu-se em meio à falta de escrúpulos de homens que governavam a cidade.
Acredito que Porto Velho, hoje, é pior do que aquela onde vivi minha infância; pior porque houve uma explosão demográfica e junto com esta houve também uma implosão dos valores humanos, coisas como ética, integridade, sentimento humanitário, sensibilidade para com as lutas dos mais humildes, pessoas que contam apenas com os serviços públicos para a sobrevivência. Cresceu a população e apequenaram-se os serviços, apequenou-se a dignidade de quem rege os destinos da cidade através dos anos, apequenou-se o sentimento humanitário, apequenou-se o comprometimento com a causa do bem.
Porto Velho de minha infância, berço de meu filho e netas, terra que cobre os restos mortais de meus pais, desejo-te melhor destino.
Quando eu era nova, o tempo não era um tema que eu considerasse instigante. Para mim bastava pensar que a vida é o que é, ou seja, tudo se modifica
Ela não era fumante, nunca foi, e se casou com meu pai, que fumava desde a meninice. Ela passava mal com o cheiro forte do cigarro impregnado nos le
O mundo em que nasci não é este que Deus está me permitindo ver e viver. Em um mundo analógico, as mudanças eram lentas; as crianças obedeciam às r
Porto velho: natureza em chamas
Era madrugada de quinta-feira quando despertei; minha respiração estava difícil, as vias respiratórias pareciam ter dificuldade em cumprir sua funçã