Quinta-feira, 27 de junho de 2013 - 18h07
Minha família acabou de passar por um susto terrível. Somos sete irmãs, todas avançadas nos anos (é a realidade), temos filhos e netos. Mas já houve um tempo em que vivíamos juntas, jovens e despreocupadas, na mesma casa, sempre uma casa antiga e acolhedora. Aquele foi, sem dúvida, o melhor tempo da vida. Nosso susto se deu em decorrência de um diagnóstico seguido de delicada cirurgia em uma das irmãs; somos unidas, não obstante as diferenças naturais, e nos amamos muito.
Não concordo com o discurso que conclama a chamada terceira idade como a "melhor idade". Ponho-me a pensar nesse discurso idiota e reflito: melhor em quê? Isto me soa até como desrespeito à inteligência das pessoas que possuem senso crítico e certa capacidade de análise; reporta-me àquele célebre comercial de margarina em que aparece a família perfeita, e a vovó e o vovô de cabelos branquíssimos fazendo parte daquele contexto de mesa com toalha branca, céu azul e sol brilhando, marido mulher, filhos, cachorro etc. Por que melhor idade? Foi-se a juventude, foram-se as paixões, foi-se o vigor físico, foi-se a fase maravilhosa dos filhos crescendo, da busca pela realização profissional, do marido ou da esposa jovens e cheios de planos.
Com os anos sentimos literalmente na pela a implacável decadência física; quando o espelho não nos leva a refletir sobre isto, as mazelas e doenças referentes à idade se encarregam desta tarefa, não há como escapar. Se algo de bom nos traz o tempo certamente é a capacidade de reflexão sobre a existência e certa sabedoria no que se refere às coisas da vida e até da morte: os anos nos ensinam a ler o mundo em que vivemos, a refletir sobre as grandes questões da existência e até a aceitar o que dantes nos parecia impensável: vamos morrer.
Ponho-me a pensar que, uma vez viventes, somos todos prisioneiros das leis naturais que regem nosso planeta, leis que determinam quem vive, quando vive, quem morre e quando morre. Pelo menos para isto serviram-me os anos. Olho para trás e avalio as diferentes fases de minha vida, tantos erros e, de tanto em tanto, um acertozinho; afinal, uma vida a mais entre tantas.
Algo especial, porém, ensinaram-me os anos: a gente não perde a capacidade de amar e de sofrer, não importa a idade que tenhamos; neste aspecto também somos prisioneiros. Até o fim.
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