Sábado, 28 de janeiro de 2012 - 13h57
Há algum tempo venho realizando pesquisas para um livro sobre a trajetória da professora Marise Magalhães Costa Castiel, minha mãe, desde sua chegada a Rondônia, em 1947, até sua morte, em fevereiro de 1999.
Quem conheceu Marise Castiel e seu trabalho no extinto Território sabe de sua importância na construção do desenvolvimento de Rondônia e de seu passado de lutas: foi educadora, administradora, política, animadora cultural, carnavalesca - substantivos hoje um tanto banalizados. Mas isto nem sempre foi assim; em sua época, as pessoas eram movidas por ideais.
Rondônia dava os primeiros passos... Marise Castiel aninhou Rondônia em seu colo de jovem mulher, assim como uma mãe amorosa acalenta um filho pequeno: cuidou, educou, viu crescer, enfim, dedicou-lhe toda sua vida.
Mas não pretendo aqui falar de suas realizações nem de seu passado. Aliás, a quem falaria? O passado da professora Marise Castiel é um passado esquecido, é o passado de Rondônia. E a quem interessa realmente nosso passado a não ser à pequena tribo dos contemporâneos?
As autoridades desta terra não conseguem disfarçar o desinteresse por nosso passado, por nossa memória, pela preservação de nosso patrimônio, pelo resgate de nossa cultura, de nossas tradições, pelo reconhecimento do trabalho dos pioneiros. Pioneiros? - Há que se atualizar o significado desta palavra no contexto atual de Rondônia, pois Rondônia só existe a partir de Jorge Teixeira!... Isto cansa...
O que seria da história de Rondônia se não fosse a persistência de alguns abnegados que pagam, literalmente pagam, para registrar os fatos históricos relativos aos primórdios desta terra?
A história da professora Marise Castiel e a História da Educação em Rondônia são uma só em vários momentos de suas existências. Como reconstruir essa trajetória apenas com documentos? Estaríamos despojando de ambas uma identidade construída na terra, com as coisas da terra, com o povo da terra, com a cultura da terra. Isto, quando de fato tínhamos uma terra.
E as pessoas que fizeram parte dessa história, da História da Educação em Rondônia... Onde estão essas pessoas? Muitas já se foram, mas ainda há um número significativo delas que vive no estado. Como encontrá-las? E as falecidas, como localizar seus filhos e netos, pessoas que podem falar sobre elas?
Numa pesquisa dessa natureza há que se ouvir, há que se gravar, há que se anotar, há que se colher tudo que é possível de quem construiu a História e de quem ouviu da fonte relatos de tamanha relevância.
Há dias percorro os quatro cantos de Porto Velho, rastreando professores pioneiros que trabalharam com a professora Marise Castiel. Tenho cuidado pessoalmente da pesquisa no que tange à Educação e à Política. Como se trata de uma pesquisa grandiosa, delimitei-a a Porto Velho e a Guajará Mirim, dantes os dois únicos municípios de Rondônia. Mas e as localidades ribeirinhas? E os demais distritos (da época) localizados ao longo da BR?
Assim seguimos... Sem qualquer apoio e sem nenhuma estrutura, estamos lutando, estamos tentando fazer o que nos cabe como cidadã, como rondoniense e como idealista que somos. Não há no estado de Rondônia um projeto que seja de incentivo à pesquisa, à literatura, à cultura, às artes. Não que saibamos. Se há, é algo acanhado, restrito, calado. Por que isto acontece?
Ora, se a História é tratada assim, o que dizer então da Literatura... Literatura é um produto de luxo, uma espécie de mimo para quem escreve.
Enfim, não há uma porta onde se possa bater para reivindicar uma parceria num projeto dessa natureza: quem quiser publicar em Rondônia tem que arcar com todos os custos, sobretudo quando não se está vinculado a instituições que costumam contemplar projetos oriundos de seus integrantes. Nesses casos, o investimento é grande: usa-se o papel mais caro, o artista mais talentoso para a parte gráfica, etc. É como se houvesse em Rondônia um estado paralelo e inatingível aos demais pesquisadores do estado.
Ao fim do dia, pesquisando sozinha, sinto-me cansada; cansada, porém recompensada. Ficam-me na memória os depoimentos emocionados, as vozes embargadas, os cabelos brancos, e as fotografias amareladas que me estendem com indisfarçável orgulho os mestres do passado. Isto para mim encerra em si um valor inestimável. Infelizmente não pensam assim nossas autoridades. Afinal, apresentações nas praças públicas têm uma fachada cultural e fazem muito barulho. Ao que parece, é o que mais interessa.
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