Sábado, 2 de fevereiro de 2013 - 07h55
Dia desses uma querida prima cuja infância foi farta em todos os aspectos sorvia cada recordação: os vestidos de organdi suíço, as mesas de aniversário, os passeios com os pais pelas capitais do mundo, as aulas de francês e piano etc etc. Pus-me a pensar em minha própria infância, infância esta cá vivida integralmente, já que o lugar mais longe que cheguei a visitar foi Guajará-Mirim (na locomotiva da Madeira-Mamoré, ressalte-se). Era uma pobre-rica infância: pobre de vestidos caros, pobre de fartura à mesa e desprovida dos rituais que comumente marcam a infância: o bolo de aniversário, a primeira comunhão, a viagem de férias, mais tarde a festa de 15 anos etc. Por outro lado, foi riquíssima: se não havia guaraná, havia sempre um livro ao alcance da mão; se não havia viagem de férias, havia idas ao sítio na velha Rural Williams; se não havia aulas de francês, havia as histórias dos caboclos ouvidas à luz do grande luar de então; se não havia bolos de aniversário, havia as fruteiras generosas às quais recorríamos no meio da tarde. Tudo muito simples. Assim foi minha infância, uma infância marcada por livros e pão. Não tenho ressentimentos. Ambas, minha querida prima e eu, fomos felizes, cada qual em seu universo.
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Minha vizinha recebeu em sua casa um parente ansioso por conhecer nossa cidade, aliás, com planos de aqui se estabelecer; há muito ouvira falar nas fortunas que tantos já fizeram nestas plagas. Assim, visitando os bairros da cidade, um monumento incompreensível despertou-lhe a curiosidade: seria um viaduto soterrado em meio aos escombros? Não, por aqui não houve bombardeio aéreo. Então que diabo seria aquele troço que parece uma construção em ruínas, encostado em elevações de terra e contido por pilhas de sacos de areia? Minha vizinha, constrangida, foi sincera: isto, meu amigo, é o nosso viaduto, sim, um viaduto que sofreu um bombardeio invisível e tão perigoso quanto o bélico: é o Viaduto da Vergonha.
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Há muito eu não entrava na catedral de Porto Velho, achei tudo tão diferente... Não me refiro apenas às mudanças no espaço físico e nas pinturas; percebi uma grande ausência: onde foram parar as senhoras de fitinha no pescoço que puxavam os hinos durante a missa? Se ainda estão lá, são tão poucas ou acanhadas que sua presença foi diluída em meio a tanta sofisticação: microfone, instrumentos musicais, músicos, e todo o aparato que requer a modernidade. Sei não, não fiquei tão emocionada, pois não havia mais aquela voz esganiçada de mulher sofrida a puxar o hino: Jesus Cristo está realmente, de noite e de dia, presente no altar... Sinal dos tempos.
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