Quarta-feira, 6 de setembro de 2017 - 14h43
Desde menina, lê muito. Apesar da infância sem luxos, cresceu rodeada por quem sempre considerou as melhores companhias da vida inteira: os livros. Descobriu em cada um a incursão a universos muito diferentes do seu. Assim, podia sair de seu mundo provinciano e penetrar em outros cenários, outras histórias de vida, personagens que passava a conhecer profundamente e a desvendar-lhes os segredos mais íntimos... Talvez isso explique a recorrência do sonho: com frequência sente-se no interior de uma livraria, à noite; mas não é uma livraria qualquer; esta revela os livros, milhares deles, à luz fraca de uma velha lâmpada, empilhados do chão ao teto em paredes altíssimas; a porta, entreaberta, é alta e estreita, comum às casas antigas, mas não consegue vislumbrar a rua lá fora, apenas a escuridão. Assim, deixa-se estar sozinha naquele lugar mágico, perdida em meio às vozes dos autores e personagens que sussurram trechos de seus poemas e de suas histórias. Em dado momento enxerga sua própria figura, menina-moça de vestido branco, a rodopiar e a percorrer os corredores daquele lugar perdido no tempo. Então, chega-lhe aos ouvidos a voz de sempre, uma voz masculina, doce e sensual; a voz promete-lhe que vai pratear as trevas da noite e, com um toque, intensificar o brilho da lua e de todas as estrelas, para que ela possa contemplar aquela imensidão, alçar voo, cortando os céus, como um belo pássaro alvo de asas de ouro... Afirma-lhe em cálidos versos que uma fada sua amiga tramará, com seus dedos mágicos, uma guirlanda de flores do campo, as mais belas que há, para adornar-lhe os cabelos cacheados. Que não se vá! Pede-lhe a doce voz do homem. Que ali permaneça para sempre, atravessando as décadas e os séculos, com sua inocência de menina-leitora! Se sair, adverte a voz, o mundo a espera: irá sofrer, envelhecer e morrer.
Assustada, a menina pensa em sua família, seus amores da vida presente. Como poderá atravessar a eternidade em meio àquelas paredes altas e cobertas de livros, entregando-se completamente à sedução da voz? De quem seria a voz, afinal? Do espírito de algum poeta que desde a morte do corpo físico tornara-se um prisioneiro de sua poesia?
Angustiada, a menina desperta subitamente e volta à realidade: sua cama, seu quarto, sua vida, seus problemas, seus cabelos embranquecidos. Agradece a Deus por mais um dia, e vai para a cozinha preparar o café.
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