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Gente de Opinião

Sandra Castiel

UM DEDO DE PROSA: CARNAVAL


Observando o movimento dos blocos na cidade, neste período carnavalesco, fico a pensar em como os costumes se transformam ao longo do tempo. Antigamente, esperava-se o Carnaval chegar com grande expectativa, afinal eram UM DEDO DE PROSA: CARNAVAL - Gente de Opiniãoos únicos quatro dias de folia do ano.  Hoje a “folia” está tão banalizada que o Carnaval perdeu muito de sua magia e encantamento.   

De tarde, a gente se reunia no bairro, fazia um bloquinho, mascarava-se, vestia roupas bem largas, e saia batendo latas pela avenida: isto se chamava bloco do sujo... Claro que tinha uma batidinha de maracujá caseira, bem leve, pra temperar a alegria; nada mais. Era uma tradição no país. Fizeram até uma musiquinha bacana sobre o tema:
 


OLHA O BLOCO DO SUJO

QUE NÃO TEM FANTASIA

MAS QUE TRAZ ALEGRIA

PARA O POVO  SAMBAR...


No início da noite, voltávamos pra casa e nos preparávamos para o baile nos clubes, onde dançávamos até o sol raiar: havaiana, baiana, índia, pirata, tirolesa, melindrosa, enfim, mil variações de fantasias, ou simplesmente um jeans e uma camiseta; o certo é que a gente se jogava na folia. Namoros começavam, outros terminavam; tudo era carnaval.  A banda era ótima, e as marchinhas eram fantásticas:


VOCÊ NÃO É MAIS MEU AMOR

PORQUE ME FEZ CHORAR...

PRA SEU GOVERNO

JÁ TENHO OUTRA EM SEU LUGAR...

 

MULATA BOSSA NOVA

CAIU NO HULLY GULLY

E SÓ DÁ ELA...

IE  IE IE IE IE IE IE IÊ,  NA PASSARELA...

 

NAQUELE TEMPO QUE EU FAZIA SERENATA

PRA ELA, PRA ELA...

A VOVÓ ME CONTOU QUE O VOVÔ

 FEZ SERESTA NA SUA JANELA

 NAQUELE TEMPO QUE EU FAZIA SERENATA

 PRA ELA PRA ELA...

 

ESTE ANO NÃO VAI SER

IGUAL ÀQUELE QUE PASSOU

EU NÃO BRINQUEI

VOCÊ TAMBÉM NÃO BRINCOU

AQUELA FANTASIA QUE EU COMPREI FICOU GUARDADA

A SUA TAMBÉM FICOU PENDURADADA

 ESTE ANO, TÁ COMBINADO

 NÓS VAMOS BRINCAR SEPARADOS...

 

OLHA A CABELEIRA DO ZEZÉ...

SERÁ QUE ELE É... SERÁ QUE ELE É?...


Assim eram os Carnavais dos clubes em Porto Velho. Na rua, os blocos eram livres, espontâneos, não havia cordões de isolamento nem trio elétrico. Vivia-se intensamente aqueles quatro dias de folia, marcados no calendário, sem repetição, nada fora de época. Depois de alguns anos, surgiu na cidade a competição entre as escolas de samba. Claro que desfilávamos na Pobres do Caiari, competindo com a Diplomatas do Samba, todo ano, e o desfile do Domingo era pura magia... 

Na madrugada de Quarta-feira de Cinzas, última noite, os foliões do Ypiranga saíam do clube dançando e seguindo a banda que tocava até o amanhecer no coreto da Praça Rondon. A despedida era triste:


AI AI AI AI,

ESTÁ CHEGANDO A HORA

O DIA JÁ VEM

RAIANDO MEU BEM

E EU TENHO QUE IR EMBORA...

 
Com este refrão, o Carnaval se despedia naquele ano. Quando a banda tocava o último acorde, só restava aos foliões suados, felizes e já com saudades da folia invadir o Mercado Central em busca de um café quente e forte... E esperar pelo próximo Carnaval. Tempos inesquecíveis...  

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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