Sábado, 18 de fevereiro de 2012 - 12h30
Observando o movimento dos blocos na cidade, neste período carnavalesco, fico a pensar em como os costumes se transformam ao longo do tempo. Antigamente, esperava-se o Carnaval chegar com grande expectativa, afinal eram os únicos quatro dias de folia do ano. Hoje a “folia” está tão banalizada que o Carnaval perdeu muito de sua magia e encantamento.
De tarde, a gente se reunia no bairro, fazia um bloquinho, mascarava-se, vestia roupas bem largas, e saia batendo latas pela avenida: isto se chamava bloco do sujo... Claro que tinha uma batidinha de maracujá caseira, bem leve, pra temperar a alegria; nada mais. Era uma tradição no país. Fizeram até uma musiquinha bacana sobre o tema:
OLHA O BLOCO DO SUJO
QUE NÃO TEM FANTASIA
MAS QUE TRAZ ALEGRIA
PARA O POVO SAMBAR...
No início da noite, voltávamos pra casa e nos preparávamos para o baile nos clubes, onde dançávamos até o sol raiar: havaiana, baiana, índia, pirata, tirolesa, melindrosa, enfim, mil variações de fantasias, ou simplesmente um jeans e uma camiseta; o certo é que a gente se jogava na folia. Namoros começavam, outros terminavam; tudo era carnaval. A banda era ótima, e as marchinhas eram fantásticas:
VOCÊ NÃO É MAIS MEU AMOR
PORQUE ME FEZ CHORAR...
PRA SEU GOVERNO
JÁ TENHO OUTRA EM SEU LUGAR...
MULATA BOSSA NOVA
CAIU NO HULLY GULLY
E SÓ DÁ ELA...
IE IE IE IE IE IE IE IÊ, NA PASSARELA...
NAQUELE TEMPO QUE EU FAZIA SERENATA
PRA ELA, PRA ELA...
A VOVÓ ME CONTOU QUE O VOVÔ
FEZ SERESTA NA SUA JANELA
NAQUELE TEMPO QUE EU FAZIA SERENATA
PRA ELA PRA ELA...
ESTE ANO NÃO VAI SER
IGUAL ÀQUELE QUE PASSOU
EU NÃO BRINQUEI
VOCÊ TAMBÉM NÃO BRINCOU
AQUELA FANTASIA QUE EU COMPREI FICOU GUARDADA
A SUA TAMBÉM FICOU PENDURADADA
ESTE ANO, TÁ COMBINADO
NÓS VAMOS BRINCAR SEPARADOS...
OLHA A CABELEIRA DO ZEZÉ...
SERÁ QUE ELE É... SERÁ QUE ELE É?...
Assim eram os Carnavais dos clubes em Porto Velho. Na rua, os blocos eram livres, espontâneos, não havia cordões de isolamento nem trio elétrico. Vivia-se intensamente aqueles quatro dias de folia, marcados no calendário, sem repetição, nada fora de época. Depois de alguns anos, surgiu na cidade a competição entre as escolas de samba. Claro que desfilávamos na Pobres do Caiari, competindo com a Diplomatas do Samba, todo ano, e o desfile do Domingo era pura magia...
Na madrugada de Quarta-feira de Cinzas, última noite, os foliões do Ypiranga saíam do clube dançando e seguindo a banda que tocava até o amanhecer no coreto da Praça Rondon. A despedida era triste:
AI AI AI AI,
ESTÁ CHEGANDO A HORA
O DIA JÁ VEM
RAIANDO MEU BEM
E EU TENHO QUE IR EMBORA...
Com este refrão, o Carnaval se despedia naquele ano. Quando a banda tocava o último acorde, só restava aos foliões suados, felizes e já com saudades da folia invadir o Mercado Central em busca de um café quente e forte... E esperar pelo próximo Carnaval. Tempos inesquecíveis...
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