Sábado, 4 de agosto de 2012 - 15h01
Ivan era o sétimo filho de Dona Conceição e de Seu Raimundo. A família morava em Bom Jardim, no Baixo Madeira. Depois de Ivan, o casal teve mais duas meninas, estas ainda crianças. Os filhos mais velhos estavam casados, o único solteiro era Ivan.
Dona Conceição temia pelo futuro do filho, pois já notara que este era namorador, não podia ver um rabo de saia, não podia ver uma cunhã bonitinha, que já se engraçava. Mas de casamento... Isso não queria saber, não... Porém, de uma coisa Dona Conceição estava certa: Ivan era trabalhador, ah!... isso ele era...
Antes de o sol nascer, o rapaz descia da rede, arrumava o tapequeiro, onde levava comida pra garantir as forças, tomava uma caneca de café, atravessava o rio e se embrenhava no varador. Trabalhava cortando seringa, preparando as pelas de borracha pra vender; também entrava na mata para extrair a sova, o líquido branco com que fazia breu pra tapar rachaduras nas canoas e nas lanchas que passavam por ali.
Quando Dona Conceição pensava que o filho estava longe, ele aparecia, carregando um latão cheio de óleo de copaíba: furava a copaibeira com o trado e aparava o óleo numa bica de flande. Depois, enchia os vidrinhos e viajava para Porto Velho, a fim de vendê-los na feira.
Ivan também ajudava o pai a cevar a mandioca colhida, espremê-la no tipiti, tirar a goma pra fazer o tucupi e a tapioca, preparar a farinha, enfim, Ivan era um filho de ouro, como costumava dizer a madrinha, Dona Diquinha.
Num domingo, Ivan saiu pra pescar mais uma prima de nome Antônia. Entraram na canoa, ainda estava escuro, e remaram pro meio do rio. De tão cedo a passarinhada ainda dormia; ainda não haviam despertado as araras, os papagaios, os periquitos, a grande variedade de aves que vivia naquela mata e os guaribas, que, mal amanhecia, faziam uma barulheira danada. Ouvia-se apenas um leve pio aqui, outro acolá. Um frescor agradável emanava da floresta e das águas barrentas do rio. Uma névoa quase transparente enfeitava o ar.
Na hora em que ia jogar a tarrafa, um leve raio de sol brilhou nas águas, e Ivan avistou mais adiante, uns duzentos metros a sua frente, a imponente figura de uma mulher: parecia uma deusa indígena emergindo das águas profundas do Madeira.
Pelo que pôde perceber, ela se banhava, no meio do rio, e estava sozinha. Não deu para examinar-lhe o rosto, mas notou-lhe a harmonia dos traços jovens emoldurados pela longa cabeleira negra; esta lhe caía sobre o torso nu e sobre os braços vigorosos como poderosa cascata.
Ivan, imediatamente, chamou a atenção da prima para o que via. Porém, a prima, para seu espanto, alegou nada avistar: uma cunhã sozinha, banhando-se no meio do rio, àquela hora? O pai dela não ia deixar, imagine!... De certo que as cunhãs andavam por ali, pescando, cortando seringa, furando a copaibeira, enchendo os paneiros de mandioca... ah! isso era certo... Mas não desacompanhadas... ainda mais àquela hora, porque os homens daquele lugar tinham, sim, era ciúme das filhas, se tinham! ... Ivan devia estar era doido... estava vendo coisas... resmungou a prima.
O rapaz, porém, não conseguia tirar os olhos da bela morena que se banhava no rio, ignorando sua presença e de sua prima. No instante em que outro raio de sol brilhou nas águas, a cunhã misteriosa olhou para o rapaz e sorriu, convidativa. Feito isso, mergulhou e desapareceu como um peixe em meio às águas barrentas do Madeira.
Bem que Ivan procurou a tal moça, nesse dia e nos outros que se seguiram, mas ninguém sabia dizer quem era.
A madrinha de Ivan assustou-se quando viu o afilhado: magro, abatido, macambúzio. Sua comadre, mãe de Ivan, já lhe contara que o rapaz tornara-se desanimado, acabrunhado, não saía mais pra trabalhar. Passava, isso sim, horas e horas na beira do rio, como se estivesse esperando alguém; a família toda, agora, vivia preocupada com o moço.
Um dia Dona Conceição, que levantava sempre antes do amanhecer, olhou na rede do filho e viu que estava vazia. Chamou, procurou em volta da casa, e nada... Até que o vizinho deu notícia de Ivan: àquele dia, avistou o rapaz, ainda no escuro, partindo em direção ao rio. Bem que o vizinho, Seu Ranunfo, tentou puxar conversa, mas o rapaz parecia enfeitiçado, nem quis saber, seguiu apressado no rumo do rio.
Nunca mais a mãe e o pai tiveram notícia de Ivan. Há quem diga que ele partiu para viver em outro lugar. Mas o que os moradores de Bom Jardim acreditam é que ele foi mesmo atender ao chamado da Mãe d’água. E quando ela escolhe um homem pra levar com ela pro fundo do rio... esse homem está é perdido, pra sempre!...
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