Sexta-feira, 29 de janeiro de 2016 - 13h49
Noutro dia lembrei-me de um episódio impressionante, algo que não é ficção, foi uma experiência pela qual passamos eu e meu marido.
Era a década de oitenta, e ambos (meu marido e eu) estávamos no Rio de Janeiro, hospedados no bairro de Copacabana. Carioca, meu marido tem parentes no Rio, quase todos moradores da zona norte da cidade, e a distância entre a zona sul (onde estávamos) e a zona norte (onde viviam os parentes) é considerável.
Antes de voltarmos para Porto Velho, meu marido teve a ideia de visitar um tio, pessoa a quem muito estimava, no bairro suburbano de Inhaúma. Na verdade, eu não conhecia o lugar, mas fiquei animada. Afinal, haveria na casa do tio uma festinha para comemorar seu aniversário. Chegou a sexta-feira, e lá fomos nós, com meu marido ao volante.
Nascido e criado na zona norte, ele parecia conhecer a região. Assim, comparecemos à festa e foi tudo muito bom, tão bom que, quando nos demos conta, a hora estava bastante avançada, era preciso voltar para Copacabana. E assim foi feito.
Tínhamos rodado alguns quilômetros pelas ruas quase desertas do subúrbio, quando os pneus começaram a fazer um barulho estranho, tão estranho que meu marido parou o carro para verificar o que estava ocorrendo. Foi assim, no meio do nada, de madrugada e na penumbra, que descobrimos o inesperado: dois pneus haviam sido furados! Provavelmente, quando o carro ficara estacionado próximo à casa do tio.
De repente, em meio àquele silêncio sepulcral, começamos a ouvir vozes semelhantes a um coro que murmurava algo parecido com orações, espécie de reza. Estávamos fora do carro, verificando o estrago nos pneus. Ao ouvir as vozes, levantei a cabeça e à minha frente, a alguns metros, vi luzes de velas e tochas que tremulavam lá no fundo com a brisa da noite: era um grupo de pessoas que caminhava em marcha lenta numa espécie de procissão em nossa direção. À medida que se aproximava, pude ver, por causa da tênue iluminação, o lugar em que o grupo estava e onde havíamos parado: era nada menos que o cemitério de Inhaúma, local muito popular no lugar, porém, desconhecido para nós; estávamos em frente ao portão de grades do cemitério!
O grupo, que na verdade, era um cortejo, deixaria qualquer vivente apavorado: Bem à frente, havia uma pessoa caracterizada como uma espécie de capeta; ao seu lado, baianas, pomba-gira, malandro, índios, sereia e tudo o mais que existe nesse universo das religiões de terreiro ou coisa assim. Todos empunhando tochas e velas. Não sei quais eram os propósitos daquilo tudo, mas não quisemos esperar para saber: entramos no carro e saímos em disparada, arrastando os pneus furados até onde deu. Quando paramos, enfim, havia sinal de vida e movimentação. Meu marido encostou o carro, e uma alma boa nos ajudou a encontrar um taxi, tarefa difícil devido ao adiantado da hora.
Dias depois, comentando o acontecido com uma amiga, ouvi que aquele lugar era frequentado à noite por pessoas que faziam “trabalhos”.
Com todo respeito que nutro por essa crença, assim como por todas as outras, sem exceção, jamais esquecerei aquela noite de terror no subúrbio do Rio de Janeiro.
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