Sexta-feira, 4 de outubro de 2024 - 12h07
O mundo em que nasci não é este que Deus está
me permitindo ver e viver.
Em um mundo analógico, as mudanças eram lentas;
as crianças obedeciam às rígidas regras impostas pelos pais, e essas regras
eram elos da mesma corrente: os pais transmitiam aos filhos os valores que
receberam de seus pais; estes, por sua vez, faziam o mesmo e assim seguia a
vida. Acho bonitinho, mas há que se considerar as transformações das
sociedades.
Minha juventude teve um pouco de ousadia,
graças a Deus; não muita, porque eu carregava na cabeça um HD com as recomendações da mamãe, do papai, das irmãs, dos
vizinhos, das amigas, das colegas, dos professores etc., etc. – Sabe a teoria
de Bakhtin, “Em tudo ouço vozes?”, -
era mais ou menos isto, no que diz respeito a comportamento, de forma
potencializada.
Tornei-me adulta e seletiva: muitas regras
caíram (com todo respeito) e, em vez de precisarem de um HD, passaram a caber em um pen
drive.
Devo admitir que, como pessoa que veio de um
outro mundo, eu estranhava alguns novos conceitos; um deles era o de dois
homens namorando.
Certa noite, perdi o sono e abri a janela do
quarto, às três horas da madrugada. Morava no Rio, em Copacabana, à época, um
paraíso; podia-se até caminhar nas ruas sem medo.
Da janela do meu quarto, no quinto andar,
avistei na rua vazia a silhueta de duas pessoas: eram dois homens (ambos de
meia idade), andavam em silêncio sob o luar, caminhando devagar, lado a lado,
como se aproveitassem a liberdade daquele momento: estavam de mãos dadas. As
mãos não se soltaram, até onde meus olhos puderam segui- los; havia algo de
mágico entre aqueles homens, um precisava d’outro, pude sentir essa energia.
Fiquei comovida. Àquela madrugada longínqua, aprendi que o
amor não obedece regras.
Achei lindo.
Sandra Castiel sandracastiell@gmail.com
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