Domingo, 21 de agosto de 2022 - 18h17
É estranho viver sem a magia da
juventude. Envelhecemos e viramos caricaturas de nós mesmos; nossos corpos
causam-nos estranhamento; no espelho, não nos reconhecemos mais. Para não me
perder de mim, identifico-me pelos olhos, aprendi que os olhos não mudam com o
tempo, mesmo aos 100 anos de vida (não é o meu caso, ainda). Claro que os olhos
ficam menores etc. Mas o olhar e a cor da íris, coisas assim, são imutáveis. Se
você, leitora, passou dos sessenta, prepare-se: se ainda não foi tratada como
alguém incapaz, um bebê que mal consegue dar os primeiros passos, quando vai às
compras em lojas de roupas, por exemplo, e mais em uma centena de lugares, esse
dia vai chegar, mesmo que você esteja com a cognição de quarenta e um corpinho
de cinquenta; claro que não incluo aí as milhares de vezes em que os objetos
pequenos mudam de lugar e não nos avisam. Mas esse tipo de coisa faz parte, não
é? Em alguns dias a solidão pesa. Homens? Cuidado, muitíssimo cuidado,
sobretudo se ele for atraente e mais jovem; pode ser que o olhar de desejo e
admiração que ele lance para você, algo que
a deixe encantada e derretida (Viva a vida!), seja fake; o alvo do olhar
profundo e cheio de paixão é descobrir o limite de seu cartão de credito, ou
viver a repetição de uma história velha como a humanidade: casa, comida e roupa
lavada. Isto vale a pena? Deixo-lhe a questão e um abraço solidário. Mas antes,
meu protesto: por que a idade deixa os homens mais sexies? Este é um tema rico para uma prosa de vários capítulos!
SAUDADES
DO MAR
Ando com saudades do mar.
Sinto falta de pisar na areia, pés
descalços banhados a cada onda, água fria e
salgada, sob o sol da manhã... Quanta beleza!
Sinto falta do mar envolvendo meu
corpo como um homem apaixonado, sob o céu azul...
Sinto falta da imensidão infinita do
mar, além da linha do horizonte...
Sinto falta de contemplar as
gaivotas, e a perfeição de seu voo sobre mar aberto...
Saudades do mar ...
ELEIÇÕES
Houve um tempo em que eu ficava empolgada com a proximidade das eleições. Hoje não mais. Sou uma brasileira apaixonada pelo meu país; do mesmo modo, pela Amazônia, dantes quase intocada, em minha meninice. Não apenas o cenário amazônida mudou ao longo dos últimos vinte anos. O cenário do mundo político deformou-se de tal maneira pela ganância e pelos interesses pessoais que isto me reporta à afirmação atribuída (somente atribuída) a Maquiavel: os fins justificam os meios, ou seja, os governantes precisam estar acima da ética dominante para manter ou aumentar seu poder; isto significa (entre outras coisas) que, quanto mais nomeações indevidas para cargos-chaves no Judiciário, principalmente, mais negociatas, mais bandalheira, mais corrupção. Como uma grande e venenosa cobra, a corrupção serpenteia-se por entre os três poderes: em nome da “democracia” vale tudo. Que democracia é esta onde membros da corte maior da nação desrespeitam pressupostos constitucionais? O que temos assistido é algo inimaginável: ladrões do erário público condenados por incontáveis provas, absolvidos descaradamente pela Corte que deveria zelar pela Justiça? Certamente temos aí uma orquestração podre para a volta triunfal e sem-vergonha da corrupção no país. Desde então, sinto-me mais pobre: perdi a confiança no cumprimento da constituição brasileira e principalmente no processo eleitoral. Que Deus proteja o Brasil!
Sandra Castiel é professora,
escritora, membro efetivo da Academia de Letras de Rondônia
sandracastiell@gmail.com
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