Sexta-feira, 16 de agosto de 2024 - 14h42
Era madrugada de quinta-feira quando
despertei; minha respiração estava difícil, as vias respiratórias pareciam ter
dificuldade em cumprir sua função. Levantei da cama, meio zonza, precisava de
um copo d’água. Abri a porta do quarto e achei que minha casa estivesse em
chamas: uma nuvem de fumaça preenchia cada espaço do corredor, inclusive do meu
próprio quarto. Corri até a sala e a cozinha, a maldita fumaça mal permitia que
eu enxergasse os móveis e os eletrodomésticos. Atônita, achei que a fumaça
poderia vir das casas vizinhas, não vinha. Fui até o jardim, morada de dezenas
de passarinhos que me alegram a vida com seu canto, mas não consegui vislumbrar
as árvores e as plantas. Pensei nos diversos ninhos e nos filhotes ali
abrigados: meu Deus, como iriam respirar normalmente? São seres tão frágeis...
Custei a entender que aquela
cena terrível era o rastro da Morte, era a natureza em chamas, centenas ou
milhares de árvores sendo derrubadas pela crueldade de quem queima vidas, para
custear sei lá o quê; nada justifica o assassinato de tantos seres vivos que
são gerados no ventre da floresta, a nossa floresta, a floresta que nos viu
nascer e crescer nas terras de Rondônia, numa época em que se adentrava a
floresta apenas pra colher o que ela produzia para a sobrevivência humana.
A floresta mantinha em seu
entorno uma mulhara de energia invisível para nossos olhos, energia que fluía dos
seres encantados que lá viviam para protegê-la: respeitávamos as lendas e os
mistérios que constituíam nossa riqueza cultural.
Afinal, de que adiantou o
“desenvolvimento” deste estado? O estado “cresceu” a troco de derrubadas
inimagináveis; agroculturas de outras regiões testadas em nosso solo e
incompatíveis com o clima e com a própria terra: “não tem problema, vamos experimentar
em outro lugar”. E assim nossa grande, amada e cultuada floresta, gigante verde
que abriga o coração da Amazônia, foi maculada com milhares de quilômetros de derrubadas
e queimadas, locais onde a natureza não gera mais vidas. As questões de sobrevivência
dos agricultores que deixaram sua terra de origem movidos pelos apelos de um
ex- governador militar são legítimas e envolvem outras reflexões.
Deixo aqui minha indignação
com o injustificável assassinato de nossas matas: a quem recorrer? Ouve-se tanto
sobre projetos de órgãos responsáveis pelo meio-ambiente... Onde estão essas
pessoas? A que vão atribuir crime de tal intensidade? Combustão de proporções
absurdas, fumaça com cheiro de madeira nobre queimando? Não sei não.
Que os seres encantados que
vivem nos recônditos da mata, dos rios, dos igarapés, dos igapós, clamem pela
chuva, pois é ela quem reorganiza os incontáveis ecossistemas ali existentes e a
sobrevivência de nossa floresta; que os crimes ambientais não fiquem impunes;
que sobre os algozes da natureza pese a mão do Criador.
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